Título: Conab confirma safra recorde de grãos
Autor: Rodrigo Bittar e Fernando Lopes
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2004, Agronegócios, p. B10

A produção brasileira de grãos deverá alcançar 131,9 milhões de toneladas nesta safra 2004/05, conforme o segundo levantamento de intenção de plantio referente à temporada realizado pela Conab e divulgado ontem. Se confirmado, o volume, recorde, representará um aumento de 10,7% em relação à colheita do ciclo 2003/04 (119,1 milhões de toneladas). A Conab também ampliou a expectativa de área plantada total para 48,3 milhões de hectares, ante 47,3 milhões na temporada anterior. Em seu primeiro levantamento, feito em outubro, a Conab previu que a produção total de grãos do país ficaria entre 128,9 milhões e 130,9 milhões de toneladas. Mas, de acordo com Eledon Pereira Oliveira, gerente de levantamento e avaliação de safra da Conab, mesmo o teto inicialmente previsto foi ultrapassado graças ao crescimento na área plantada de soja e à manutenção da área de arroz. Carro-chefe da produção agrícola e das exportações brasileiras, a soja, cujo plantio já está na reta final, ocupa 22,3 milhões de hectares, 4,9% mais que em 2003/04. A projetada produção, com isso, passou de até 60,8 milhões de toneladas, estimadas em outubro, para 61,4 milhões, ante 49,8 milhões em 2003/04. Conforme Oliveira, o volume leva em conta a incidência do fungo da ferrugem asiática nas lavouras, que no ciclo passado colaborou - junto com intempéries climáticas no Centro-Oeste (chuvas) e Sul (estiagem) - para uma queda de cerca de 10 milhões de toneladas na oferta final se comparada à inicialmente calculada.

No caso da primeira safra de milho, o novo levantamento da Conab aponta para uma produção de 32,6 milhões de toneladas, teto previsto pela companhia em sua primeira pesquisa e volume 3% maior que o colhido no verão da temporada 2003/04. Como a área plantada estimada em 9,2 milhões de hectares é 2,9% menor, está implícito um aumento de produtividade da ordem de 6,1%, com destaque para o avanço na região Sul. Já a produção de algodão em caroço poderá ficar em 2,1 milhões de toneladas, e a de algodão em pluma, em 1,3 milhão - nos dois casos, com alta de 5% sobre 2003/04. A Conab destacou que o maior crescimento verificado no cultivo da soja aconteceu no Mato Grosso, enquanto o algodão avançou em São Paulo, Paraná e Bahia. De acordo com os técnicos da companhia, a área plantada poderia ser ainda maior se não houvesse fatores limitantes, como a "cotação em declínio, a elevação dos custos de produção e o clima desfavorável para o arroz no Rio Grande do Sul e para o feijão em São Paulo, Paraná e oeste do Rio Grande do Sul". O levantamento divulgado ontem, em Brasília, também indica receita com exportações da ordem de US$ 12,7 bilhões para o conjunto formado pelo complexo soja (inclui grão, farelo e óleo), milho e algodão. As importações, calculadas apenas para algodão e trigo, deverão ser de US$ 850,4 milhões. Luís Carlos Guedes Pinto, secretário-executivo do Ministério da Agricultura, disse que, apesar da depreciação do câmbio verificada ao longo deste ano, a soja "continua sendo um bom negócio" diante do valor da produção, já que supera em cerca de 100% os custos. Os dados da Conab indicam, ainda, a possibilidade de haver, no fim de 2005, estoques mais representativos do que aqueles existentes no início de 2004. De oito produtos analisados, há projeção de redução apenas para o farelo de soja, cujos estoques, que eram de 2,234 milhões de toneladas no início da safra 2003/04, deverão cair para 1,47 milhão no fim de 2005. Já os estoques finais de algodão em pluma, arroz em casca, feijão, milho, soja em grão, óleo de soja e trigo deverão apresentar crescimento no próximo período agrícola. "Isso mostra que o país não corre riscos de desabastecimento