Título: Ministério ainda busca mais R$ 2 bi para o ciclo 2004/05
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2004, Agronegócios, p. B10

No apagar das luzes de 2004, o Ministério da Agricultura corre contra o tempo para aprovar uma emenda para incluir R$ 2 bilhões no Orçamento de 2005. Esses recursos, se aprovados, serão destinados ao custeio da nova safra de grãos, que será colhida a partir de fevereiro. "Os recursos serão usados para ajudar a enxugar o mercado de grãos durante o início da colheita [por meio de leilões, contratos de opção e política de preços mínimos] ", afirmou ontem o ministro Roberto Rodrigues durante o seminário Desenvolvimento do Setor Agropecuário e Inclusão Social, promovido pelo Valor, pelas comissões de Agricultura e Relações Exteriores da Câmara dos Deputados e pela Embrapa. Na empreitada, Rodrigues conta com o apoio do deputado Leonardo Vilela (PP-GO), que preside a Comissão de Agricultura da Câmara. Vilela disse que está discutindo o assunto com o relator do Orçamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR), e a expectativa é de que haja uma definição antes do dia 23 de dezembro. O Orçamento Geral da União (OGU) já contém R$ 500 milhões para emendas parlamentares dos agronegócios, previstos nas Operações Oficiais de Crédito (2OC). Contudo, esse valor é considerado insuficiente pelo ministro e pela bancada ruralista. Os novos recursos são parte da aposta do governo para tentar minimizar o cenário pouco favorável para os agronegócios previsto para 2005. Rodrigues voltou a afirmar, no seminário, que as perspectivas de preços serão baixistas para os grãos (soja, milho, arroz, trigo e algodão), uma vez que a produção brasileira será maior em um momento também de recuperação da safra mundial. A receita dos agronegócios, porém, poderá ser compensada pela maior produção. Os bons desempenhos do açúcar, álcool, café, carnes e leite também poderão minimizar impactos negativos na balança comercial. Além da queda dos preços internacionais dos grãos, Rodrigues apontou outros obstáculos que poderão inibir o crescimento do setor. Esses gargalos já são velhos conhecidos, sobretudo os logísticos, mas ganham mais evidência em um momento de rota descendente de preços e com os custos de produção cerca de 20% maiores que na safra anterior. O ministro disse que o governo trabalha para aumentar os recursos para financiar pesquisas e defesa sanitária, considerados dois importantes gargalos do setor. Rodrigues reconhece, também, que é limitada a infra-estrutura de transporte e armazenagem. Segundo ele, "o esforço do governo está incompatível com a demanda". Mas parte dos esforços, disse, esbarra na lentidão dos processos burocráticos, como a aprovação da Lei da Biossegurança e das Parcerias Público Privada (PPP). "Temos terra, tecnologia e gente", observou. "Mas o país não está preparado para crescer mais com a atual infra-estrutura". Para Pedro de Camargo Neto, presidente da Abipecs (entidade que reúne as indústrias de carne suína), os problemas com defesa sanitária colocam o Brasil, um dos maiores exportadores mundiais de produtos do agronegócio, em uma posição de fragilidade frente aos países importadores. As barreiras sanitárias, ambientais e sociais poderão ser usadas como armas contra o país, acrescentou Cristiano Simon, vice-presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag). Simon citou, ainda, as exigências de rastreabilidade, sobretudo na União Européia. Apesar dos gargalos, os agronegócios respondem por 37% dos empregos do país e por 42% das exportações. E é no campo que o país surpreende importantes países produtores, como os EUA. Com a crescente aplicação de tecnologia, o Brasil tem um dos mais baixos custos de produção e maior produtividade agrícola do mundo. Recente pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa em Economia Aplicada (Ipea) mostra que as agroindústrias são as que mais investem em inovação tecnológica. Segundo Glauco Arbix, presidente do Ipea, 42% do êxito do agronegócio está associado à essa inovação. "Mais de 40% da inovação tecnológica está associada ao processo produtivo da Embrapa". A pesquisa do Ipea, uma espécie de censo industrial, envolve mais de 70 mil empresas brasileiras e inclui os agronegócios. No universo, só 30% das empresas brasileiras admitem fazer algum tipo de inovação.