Título: Petros vai atrás de barganhas na bolsa
Autor: Mota ,Marcelo
Fonte: Valor Econômico, 22/09/2011, Finanças, p. C7

A Petros, segundo maior fundo de pensão do país, vai tentar aproveitar os efeitos da recente desvalorização do mercado de ações para adquirir novas participações relevantes em companhias para sua carteira.

Segundo o diretor financeiro e de investimentos da fundação, Carlos Fernando Costa, há muitas empresas "descontadas" em relação a seus fundamentos, boa parte até mesmo com capitalização de mercado abaixo de seus valores patrimoniais.

Até o alvo já foi delineado. "Queremos empresas voltadas para o consumo interno, com grande perspectiva de valorização, sólidas", disse o diretor da Petros ao Valor durante o 32º Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão, sem citar exemplos específicos.

Não é a primeira vez durante uma crise que a Petros olha para empresas castigadas no mercado com esse objetivo em vista. Em 2009, quando os preços ainda refletiam o impacto dos acontecimentos do final do ano anterior, após a quebra do banco Lehman Brothers, a fundação fez um levantamento. Agora, nessa segunda rodada da crise, o estudo foi refeito e a Petros constatou que, mesmo se comparados aos preços daqueles dias, o valor das companhias está barato. "O mercado está mais do que penalizando", disse. "Um dia vai voltar. Como nós temos como característica o longo prazo, podemos aproveitar."

Entre as empresas nas quais a Petros detém hoje participação relevante estão Petrobras, Vale, Brasil Foods, Companhia Paulista de Força e Luz, Oi, JBS e Itaúsa. Na holding do grupo Itaú Unibanco, ainda há a opção de elevação da participação de 12,5% para 15%, mas, somado o capital já detido nessas companhias, a Petros contabiliza R$ 14 bilhões nessas participações, ou pouco mais de 25% do patrimônio investido da fundação.

Para Costa, se encontrar ativos à venda suficientes para tanto, a Petros pode chegar a 30% da sua carteira em participações relevantes. Em um patrimônio de R$ 55 bilhões, esse crescimento de cinco pontos percentuais representa mais de R$ 2,7 bilhões, que, segundo ele, sairiam da carteira de títulos públicos, que hoje respondem por 55% da carteira. Com esse cacife, a Petros poderia comprar bem mais que participações relevantes em empresas do setor para o qual olha com mais interesse. Mas, se de um lado ele reconhece que o apetite pode ser muito para a oferta, por outro isso contribui para que outros sócios dessas companhias abram espaço para sua entrada.

Para um setor como o de consumo, às voltas com um processo de consolidação, ter ao lado no conselho de administração um ou mais representantes de um investidor tão parrudo, pode ser uma tática defensiva. Com o peso que possui, a Petros entra é sempre um aliado importante numa eventual aquisição, mas também uma retaguarda reforçada para fazer frente a eventuais ofertas de concorrentes, nacionais ou estrangeiros.

Além disso, Costa diz que hoje as companhias enxergam com outros olhos a chegada de um fundo de pensão como a Petros em seu conselho de administração. Com mais mecanismos de controle de riscos e políticas de participação efetiva na administração, atualmente a direção das companhias, segundo o diretor da fundação, já não oferece resistência porque avaliam que seus integrantes sabem que esse acionista pode agregar valor à gestão.