Título: UE quer fechar negociação com Mercosul em 2005
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2004, Brasil, p. A6
O principal representante da União Européia nas negociações com o Mercosul, Karl Falkenberg, disse que o objetivo de seu bloco é concluir no ano que vem o acordo comercial com Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. "Queremos ver se há vontade política de levar esse processo adiante", disse Falkenberg durante palestra feita na noite de terça na Bolsa de Cereais de Buenos Aires. "Se houver essa vontade política, tenho certeza de que podemos encontrar as soluções em um período razoavelmente curto de tempo, e as negociações poderiam ser concluídas em 2005", afirmou. Falkenberg disse que a viabilidade de concluir ou não o processo ainda neste ano dependerá do resultado da reunião ministerial, prevista para março ou abril do ano que vem. Ao mesmo tempo, o negociador afirmou ter sérias dúvidas em relação à posição que vem sendo defendida pelo Brasil, de só retomar o diálogo depois da conclusão da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). "Tenho dúvidas em relação ao sucesso dessa abordagem", disse ele. "No aspecto de acesso a mercados, os sinais vindos da Rodada Doha não são muito animadores neste momento. Temos visto muito pouco movimento no acesso a mercados para o setor industrial, pouco entusiasmo na abertura do setor de serviços, e simplesmente não consigo ver como poderíamos liberalizar o comércio agrícola sem a contrapartida de uma abertura em bens industriais e serviços", afirmou. Caso o novo comissário europeu de comércio, Peter Mandelson, não sinta que há "vontade política" para seguir negociando, Falkenberg diz que o diálogo com o Mercosul ficará em um segundo plano, com os esforços europeus em termos de negociações comerciais bilaterais concentrando-se nos EUA, Ásia, África e Caribe. O negociador europeu também citou dificuldades internas do Mercosul como possíveis obstáculos para a concretização do acordo, em particular as recentes medidas de restrição comercial levadas a cabo devido à pressão da Argentina. "Queremos fechar um acordo que permita que os produtos europeus circulem livremente no Mercosul. Se um produto do próprio Mercosul não pode circular livremente entre os países do bloco, obviamente será mais difícil ainda para os produtos europeus", disse Falkenberg, que citou também a necessidade de eliminação da dupla cobrança da Tarifa Externa Comum (TEC). Karl Falkenberg também descreveu o atual estágio das relações comerciais entre a União Européia e o Mercosul como "difícil" , mas considerou "encorajadora" a reunião informal entre os negociadores dos dois blocos realizada no início de dezembro no Rio de Janeiro. "Ainda existe vida nessa negociação, mas precisamos cuidar muito bem do paciente para poder salvá-lo", afirmou o europeu. Ele também apontou como um dos fatores que contribuíram para o fracasso das negociações neste ano o fato de o Mercosul ter colocado na Internet suas ofertas de maio e setembro ao mesmo tempo em que as mostrou para a União Européia. Segundo ele, a atitude fez com que a imprensa e a opinião pública se concentrassem nos pontos negativos das propostas, minando os esforços para que elas pudessem ser melhoradas.