Título: Petistas voltam a se enfrentar por liderança
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2011, Política, p. A8

A bancada do PT na Câmara dos Deputados já ensaia o próximo embate entre os dois grupos que desde o ano passado disputam espaço e poder no Congresso. Entre o fim de novembro deste ano e fevereiro de 2012, a liderança do partido e do governo será o alvo do novo embate.

O grupo liderado pelo presidente da Câmara, Marco Maia (RS), e pelo ex-presidente Arlindo Chinaglia (SP), além do ex-presidente do PT Ricardo Berzoini (SP), do vice-líder do governo Odair Cunha (MG) e do atual líder do PT, Paulo Teixeira (SP), aposta em uma conjunção que dê os postos a Teixeira ou Pepe Vargas (RS) como líder do governo e a Jilmar Tatto (SP) na condução da bancada.

Em outra frente, a ala sob comando do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP), do atual líder do governo, Cândido Vaccarezza (SP), do secretário de comunicação do PT, deputado André Vargas (PR), e do vice-líder do governo José Guimarães (CE), acredita na manutenção de Vaccarezza no cargo e na condução de Guimarães a líder dos 90 deputados petistas, a maior bancada da Câmara.

Nesse cenário, contas têm sido feitas lado a lado. O duelo está mais claro para a liderança do PT, função para a qual a própria bancada elege o titular. Diferentemente da liderança do governo, cargo de nomeação direta da presidente Dilma Rousseff.

O setor próximo a Chinaglia avalia como inevitável o triunfo de Tatto, uma vez que o histórico recente de enfrentamento interno comprovou que a maioria está ao seu lado. Isso desde a escolha de Maia como candidato do PT a presidente da Câmara, passando pela escolha de Teixeira para a atual liderança, pelo posicionamento contra o relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) no Código Florestal e, mais recentemente, o apoio de dois terços da bancada à indicação da deputada Ana Arraes (PSB-CE) a ministra do Tribunal de Contas da União.

A ala de João Paulo apoiou Aldo e admite que a minoria seguiu essa posição. Cerca de 30 deputados, estima-se. Mas tem hoje em mãos um levantamento que dá a Guimarães apoio de 35 deputados contra 28 a Tatto. Restariam aí 27 deputados que compõem a ala dos "indecisos" que definiriam a disputa. Monta a estratégia da paulistização da sigla para convencê-los, abrindo com a necessidade de privilegiar os egressos do Nordeste - 24 dos 90 eleitos são nordestinos - e da impossibilidade de que um paulista - Tatto - suceda outro paulista - Teixeira - na liderança.

O debate será oficialmente aberto no fim de novembro e a eleição ocorrerá em dezembro. Para evitar mais um enfrentamento que acirrará as divergências dos dois lados, é considerada a possibilidade de revezamento. Só que daí advem outro problema: quem seria o primeiro?

Para Guimarães e Tatto, estar à frente da bancada em 2012 é crucial. O cearense tem planos de ascender à liderança do governo nos anos seguintes e consolidar-se como candidato a um cargo majoritário em seu Estado em 2014, ao passo que o paulista, pré-candidato a prefeito de São Paulo, precisa da exposição que o posto lhe conferiria para sair do traço nas pesquisas eleitorais caso seja o indicado do PT pelo diretório paulistano. Além disso, também sonha com voos maiores para as próximas eleições gerais, abrindo a possibilidade de que um de seus irmãos, o deputado estadual Ênio Tatto (PT-SP) ou o vereador Arselino Tatto (PT-SP) cheguem à Câmara dos Deputados.

O Palácio do Planalto espera por uma composição e até emite sinais de que a escolha da futura liderança do governo, prevista para o início de 2012, poderá ser influenciada pelo resultado da eleição da bancada.

A dificuldade é que, para não se prejudicarem com um lançamento de nome muito anterior ao prazo, nenhum dos cotados se diz pretendente a líder do governo na Câmara. Limitam-se a declarar que se trata de uma escolha pessoal de Dilma.

A despeito disso, dois dos principais auxiliares da presidente trabalham internamente por seus preferidos. O ministro da Secretária-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, acha que Vaccarezza deve permanecer no cargo que ocupa desde o último ano do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entretanto, a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, receosa do movimento que Vaccarezza fez após a saída do ex-ministro Luiz Sérgio para ocupar o cargo que hoje é dela, quer outro nome. Por essa razão, tem trabalhado por Pepe Vargas.