Título: Comércio cresceu menos em outubro
Autor: Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2004, Brasil, p. A8
As vendas do comércio varejista cresceram 8,46%, e a receita nominal 13,40% em outubro, em comparação a igual mês do ano passado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse resultado significou uma ligeira redução ante os 9,25% e 13,94% de alta obtidos em setembro sobre setembro de 2003. Nilo Lopes de Macedo, responsável pela Pesquisa Mensal de Comércio, do IBGE, encara o desempenho como uma estabilização temporária, como aconteceu também com a indústria em outubro. Na sua expectativa, o cenário tem se mostrado positivo para o varejo, que poderá fechar 2004 com crescimento nas vendas entre 5% e 8%, a maior taxa da série iniciada em 2000, embalado pela melhoria do emprego e da renda. Adriano Pitoli e Camila Saito, economistas da consultoria Tendências, consideram que os números do IBGE evidenciam uma acomodação pontual da demanda interna. Eles destacaram dados da pesquisa que informam uma manutenção da retração da venda de bens duráveis, com destaque para eletrodomésticos e automóveis, já ocorrida em setembro, enquanto as vendas de hipermercados e supermercados continuam registrando altas sucessivas. A pesquisa revela que os eletrodomésticos ficaram estáveis em relação a outubro do ano passado (20% de expansão), mas reduziram o ritmo de crescimento na taxa acumulada do ano (27,60% até outubro ante 28,56% até setembro). As vendas de veículos foram as que mais caíram no período pesquisado, saindo dos 15,41% de crescimento em setembro para 9,91% em outubro, ou seja, uma queda de 5,5 pontos percentuais. Uma boa parte desse resultado tem a ver com a base de comparação mais desfavorável neste segundo semestre. A queda das vendas de automóveis é confirmada pela taxa acumulada de 17,77% até outubro, ante 18,77% até setembro. No contraponto, o segmento de hipermercados e supermercados e alimentos e bebidas e fumo manteve-se como a principal influência sobre o comércio em outubro, com alta de 10,65% no volume vendido em relação a igual mês de 2003. No acumulado do ano, a taxa de expansão das vendas das redes de supermercados atingiu 6,65%. O ramo de hipermercados destacou-se com resultado ainda melhor do que a média do segmento, crescendo 11,31% em outubro e 6,91% no ano. Macedo atribuiu a retração dos bens duráveis a um esgotamento da capacidade de endividamento do consumidor, já que são bens alavancados pela oferta de crédito. Mas ele avalia que a situação poderá ser revertida na medida do aumento da massa salarial, o que já vem ocorrendo desde o início do segundo semestre. A retomada do consumo de produtos não duráveis tem a ver, segundo o técnico do IBGE, com o aumento do emprego e do rendimento médio do trabalho ocorrido a partir de julho. "O setor é mais sensível a renda que ao crédito. A maioria da população não tem acesso ao crédito tão facilmente", destacou Macedo. Ele acredita que o aumento do salário mínimo, anunciado ontem pelo governo, pode aquecer mais ainda este setor, pois tem impactos nos reajustes do funcionalismo público municipal, estadual e federal. Os economistas da Tendências acreditam que as vendas do comércio devem apresentar trajetória de alta nos próximos meses, por conta do crescimento continuado da economia, embora as altas da Selic possam inibi-las um pouco.