Título: PSB e PSDB ampliam alianças para 2012 e preocupam petistas
Autor: Klein,Cristian
Fonte: Valor Econômico, 23/09/2011, Política, p. A6

Presidido pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, o PSB aproveitará as eleições municipais do ano que vem para intensificar o processo gradual de independência em relação ao PT, seu aliado tradicional, e se aproximar dos tucanos.

PSB e PSDB já compartilham importantes governos estaduais, conquistados no ano passado, como Minas Gerais, Paraná, Paraíba e Alagoas, e tudo indica que a parceria se estenderá em 2012 ao maior Estado do país, para o desgosto dos petistas.

Em São Paulo, os dois partidos devem selar um amplo acordo para a capital e o interior.

"Estamos em um bom caminho. O acordo é macro, é um pacote. Vamos abrir mão de candidaturas e eles abrirão para nós, onde formos mais fortes", afirma Pedro Tobias, deputado estadual e presidente regional do PSDB.

Com a parceria, diz Tobias, mudou a situação para a corrida presidencial em 2014 no Estado. Se até hoje o PSB deu palanque ao PT, o apoio agora ruma para o PSDB.

O marco da aproximação entre o PSB e os tucanos ocorreu depois das últimas eleições, quando o deputado federal e presidente estadual do PSB, Márcio França, aceitou o convite do governador Geraldo Alckmin para assumir a Secretaria de Turismo. França diz que a decisão não foi pessoal e teve aprovação da Executiva estadual, com a presença de 64 pessoas.

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"Já votávamos com o governo do PSDB. Mas [o convite] foi um movimento ousado do governador Alckmin. A mensagem da minha ida para o secretariado foi: o PSB não é aliado incondicional do PT", afirma Márcio França.

A aproximação com os tucanos aconteceu como efeito das animosidades com o PT, em torno da candidatura do PSB ao governo paulista, no ano passado. Um imbróglio que incluiu a transferência do título eleitoral do ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, para São Paulo, e passou pela pressão para que parceiros tradicionais do PSB não apoiassem o candidato do partido, Paulo Skaf, critica o secretário.

"Nosso contato é maior com o PDT, do Paulinho [da Força], e com o PCdoB, do Aldo [Rebelo]. E forçaram para que eles não estivessem com a gente", diz.

O secretário estadual reconhece que a relação saiu estremecida depois de sua ida para o governo tucano.

"O convite do governador Alckmin mudou o tabuleiro. Quer dizer, na prática não mudou, mas eles ficam com receio", afirma.

França cita como reação o fato de o PSB ter perdido a secretaria de Cultura de Osasco, cidade da região metropolitana, governada pelo PT.

Enquanto isso, o acordo com os tucanos pretende ampliar as alianças já existentes entre as duas siglas. Atualmente, entre os maiores municípios paulistas, as duas legendas compartilham a prefeitura de São José dos Campos (onde o PSB tem o vice-prefeito) e São José do Rio Preto (onde o vice é tucano).

Em São Vicente (prefeito do PSB) e Franca (do PSDB), o aliado, embora não esteja na vice-prefeitura, faz parte do governo.

Márcio França afirma que uma das prioridades do partido em 2012 será vencer em Campinas, justamente um dos maiores objetivos do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que insufla o nome do presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann.

O pré-candidato do PSB é o deputado federal Jonas Donizette (ex-tucano). O PSDB pretende lançar o também deputado Carlos Sampaio. Em comum, além de uma possível aliança, as duas legendas terão como discurso as críticas à administração atual, acusada de corrupção e comandada agora pelo petista Demétrio Vilagra, que chegou a ser preso e assumiu a prefeitura no lugar de Dr. Hélio (PDT), que foi cassado.

Na capital, o apoio do PSB ao nome a ser escolhido pelo PSDB pode dispensar até a reivindicação da vaga de vice. França diz que, com a saída do deputado federal Gabriel Chalita e de Paulo Skaf para o PMDB, o partido só teria Luiza Erundina para pleitear o posto. Como ela é deputada e existe uma espécie de hierarquia, somente se o PSDB lançasse seu senador, Aloysio Nunes, essa possibilidade seria factível.

"É mais difícil convencer um deputado a ser vice de outro deputado", diz. À exceção de Nunes e do ex-governador José Serra, que negam interesse pela disputa, a maioria dos pré-candidatos do PSDB é de deputados, como Ricardo Tripoli e os secretários estaduais José Aníbal (Energia) e Bruno Covas (Meio Ambiente), licenciados do cargo.

Márcio França minimiza as conversas com outras forças e uma possível tendência de aliança com o prefeito Gilberto Kassab (sem partido) ou o vereador Netinho de Paula (PCdoB). "Tendência é uma coisa etérea. O normal é acompanhar o caminho do governo", diz.

O secretário cita como sinais de aproximação e afinidade com os tucanos a recente filiação do vereador Juscelino Gadelha ao seu partido; o apoio à deputada Ana Arraes (PSB-PE) na eleição para a vaga do Tribunal de Contas da União; e o fato de o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, ser oriundo do PSB e ter sido secretário de Miguel Arraes (1916-2005), que foi governador de Pernambuco e presidente da sigla, como agora é o neto, Eduardo Campos.

Carlos Siqueira, primeiro-secretário nacional do PSB, reconhece que a legenda tem e terá alianças importantes com o PSDB, como em Belo Horizonte e Curitiba, mas que também as fará com o PT. "Nas eleições municipais, é muito difícil manter um padrão, até nas cidades médias. Às vezes, acontece de um candidato de direita ser mais progressista que um de esquerda", diz.

A ampla política de alianças do partido tem dado resultado. Entre 2000 e 2008, o PSB foi a sigla que mais cresceu em número de prefeitos: 136%. Passou de 133 para 314. Já o PSDB foi o terceiro que mais perdeu (-20%), depois de PPS (-21%) e DEM (-51%). Os tucanos elegeram 989 em 2000 e 790 há quatro anos.

Nas últimas três eleições para prefeito, o PSDB esteve em cerca de um terço das coligações firmadas pelo PSB. Já a participação do PT cresceu, no período, de 33% para 43%.

Siqueira cita como contraponto às parcerias com os tucanos a capital do Maranhão, São Luís, onde o PSB terá candidato próprio, desfazendo aliança com o PSDB do prefeito João Castelo, que tem direito à reeleição, mas cujo governo é mal avaliado. O nome, porém, mostra como a relação é umbilical. O PSB concorrerá com o ex-deputado federal Roberto Rocha, que há dois meses deixou a presidência estadual do PSDB para disputar a prefeitura.

Na Paraíba, no ano passado, a parceria das duas legendas rendeu a surpreendente vitória de Ricardo Coutinho (PSB) contra o favorito e então governador José Maranhão (PMDB), apoiado pelo PT. Siqueira diz que na capital João Pessoa as siglas devem ter candidaturas próprias.

Por outro lado, em Curitiba, o governador do Paraná, o tucano Beto Richa, será o fiador de seu ex-vice-prefeito, Luciano Ducci, que busca a reeleição.

E, em Belo Horizonte, PSB e PSDB deverão estar ainda mais unidos. Se em 2008, os tucanos apoiaram a eleição de Márcio Lacerda, mas tiveram de ficar oficialmente fora da coligação, por imposição do PT, desta vez eles já foram convidados, esta semana, a integrar formalmente a aliança. O casamento será de papel passado.