Título: Temor de crise bancária e de recessão mais profunda derruba bolsas
Autor: Moreira,Assis
Fonte: Valor Econômico, 23/09/2011, Finanças, p. C2

A nova derrocada das bolsas na Europa, ontem, refletiu temores de uma desaceleração econômica mundial pior do que se esperava. Para corroborar esse quadro, a queda do índice de gerentes de compras (PMI) na zona euro para baixo da barreira de 50 foi recebida como mais um sinal de que a região se aproxima de um tranco significativo e talvez duradouro.

A operação Twist do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) e as novas declarações sobre necessidade de recapitalização da banca europeia intensificaram o pânico e a especulação nos mercados.

Mais de 20 bancos europeus perderam mais da metade de seu valor na bolsa este ano. A publicação de que o BNP Paribas, maior banco da França, tenta levantar US 2,7 bilhões junto a investidores do Oriente Médio, elevou as inquietações.

"Se fosse preciso confirmação de que estamos no meio de uma segunda crise bancária, ela veio com essa notícia"", escreveu Michael Symonds, do Daiwa Capital, em nota a clientes. O banco negou a operação, mas seus papéis fecharam com perda de 5,7%.

Em 2008, bancos também correram para o Oriente Médio em meio a crise. Symonds nota que, apesar das repetidas garantias de solidez do sistema bancário francês, as preocupações com a exposição do setor aos países mais endividados da zona euro persistem. Ontem o índice de bancos Stoxx Europe 600 caiu 4,6%.

Mohamed El-Erian, diretor executivo da Pimco, maior fundo de investimentos do mundo, alertou, em artigo no "Financial Times", que solucionar o problema da dívida soberana na Europa é necessário, mas pode não ser mais suficiente.

Em nova versão de seu Global Financial Stability Report (GFSR), o Fundo Monetário Internacional (FMI) estimou que as perdas potenciais com títulos de dívida soberana e a exposição no interbancário podem causar prejuízos de € 300 bilhões aos bancos da região.

No começo da noite, informações de que a União Europeia pretende acelerar a recapitalização de 16 bancos da zona euro pareciam indicar que as autoridades, enfim, tentam reagir. A opinião generalizada é de que as divisões na zona euro e ausência de avanços concretos vão continuar causando turbulências nos mercados e deteriorando as expectativas.

Por sua vez, o Banco Central Europeu (BCE) poderá reduzir os juros em sua reunião de 6 de outubro. O consenso do mercado é de corte de 0,25 ponto percentual, o que levaria a taxa oficial a 1,25% ao ano. O cenário é ainda mais provável, levando-se em conta que será a última reunião de Jean-Claude Trichet como presidente. Ele não deixaria para seu sucessor, o italiano Mario Draghi, como primeira tarefa justamente flexibilizar a política monetária.

As ações do BNP Paribas não foram as únicas a sofrerem com a desconfiança dos investidores. As bolsas europeias despencaram para o menor nível desde março de 2009. Bancos, empresas de petróleo e mineradoras lideraram as perdas.

As bolsas americanas também refletiram o pessimismo crescente, afundando mais de 3%.