Título: PSDB tenta antecipar sucessão para evitar favoritismo de Lula
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2004, Política, p. A-14

O PSDB começou anteontem, no seu encontro nacional de prefeitos, a construção da candidatura do partido à Presidência em 2006. Um duro pronunciamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a presença do mais forte presidenciável do partido, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do prefeito eleito de São Paulo e presidente da sigla, José Serra, sinalizaram a antecipação do calendário eleitoral pelo partido, que planeja outros eventos na mesma linha. "Em 2005 vamos ter vários momentos de reafirmação como esse", disse o secretário-geral do partido, deputado Bismarck Maia (CE). Em seu primeiro discurso público em Brasília desde que deixouo o cargo, Fernando Henrique, em linha geral, disse que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva imita, de forma canhestra, a administração tucana. "Eles afinam a voz para falar, mas sai em falsete, soa a oportunismo. Isto me diverte muito. É bom que eles entoem o nosso canto", disse o ex-presidente. Fernando Henrique reiterou que não é candidato. "Não preciso contar duas vezes a história já sabida. Porque não agora uma terceira pessoa, que não eu?", indagou. A antecipação do calendário tucano e o primeiro plano assumido pelo ex-presidente estão dentro de uma só estratégia: procurar atingir a popularidade de Lula em seu melhor momento. "O governo vai mal, mas Lula continua muito popular. O trabalho da oposição parlamentar não arranha a imagem presidencial. Ou se antecipa o debate para agora, ou Lula cristaliza uma superioridade eleitoral que depois será difícil superar", afirmou o deputado Eduardo Paes (RJ), integrante da Executiva. Nesse primeiro tempo da campanha, será ainda o ex-presidente que irá conduzir o debate. "O ex-presidente não é porta-voz da cúpula, mas por não ser candidato e nem ter funções administrativas ele tem condições de mandar mensagens com mais contundência", comentou outro membro da Executiva tucana, o deputado Walter Feldman (SP). Ao se expor, Fernando Henrique permite que Alckmin ganhe tempo antes de enfrentar um debate interno e externo sobre sua possível candidatura. Em seu discurso, Alckmin evitou se colocar como candidato, mas a sua simples presença ganhou um caráter simbólico: o governador paulista começa a atuar nos fóruns nacionais do partido. "A timidez dele está acabando e Alckmin é o nome natural do partido", disse o deputado Carlos Alberto Leréia (GO), vice-presidente da sigla. Exatamente por Alckmin ser o nome mais forte, sua possível candidatura presidencial terá que ser definida ainda no primeiro semestre de 2005. A razão foi o movimento do prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), de também se lançar. Como o vice-governador de São Paulo, Claudio Lembo, é um pefelista, a coligação com o PFL virou um instrumento essencial para a candidatura de Alckmin ter sucesso. E para negociar com o prefeito do Rio, o governador paulista precisa se consolidar como um nome nacional, o que não seria possível se o tema fosse postergado.