Título: Alta do juro sanciona o declínio do dólar
Autor: Alex Ribeiro, Luiz Sérgio Guimarães e Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2004, Finanças, p. C-1

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu ontem elevar em 0,50 ponto percentual a taxa básica de juros da economia, de 17,25% para 17,75% ao ano. Num curto comunicado divulgado após a reunião, também sinalizou que virão novas altas de juros pela frente, esfriando as expectativas de parte do mercado de que o aperto monetário poderia se encerrar ainda em 2004. Com a decisão, o BC deixa claro que não pretende segurar a queda do dólar por meio de uma flexibilização da política monetária. A maior parte do declínio da moeda resulta de operações vendidas fechadas no mercado futuro externo cuja remuneração é o juro interno. Ao subir a Selic, o BC estimula essas operações e sanciona a queda do dólar. Ontem a moeda fechou em baixa de 1,45%, cotada a R$ 2,7250. A decisão foi unânime, e não foi colocado nenhum tipo de viés à taxa, o que significa que ela permanecerá constante em 17,75% até a próxima reunião do Copom, marcada para 18 e 19 de janeiro de 2005. Na nota à imprensa, o comitê afirma que está "dando prosseguimento ao processo de ajuste na taxa de juros iniciado na reunião de setembro". De lá para cá, os juros foram elevados em 1,75 ponto percentual, em quatro reuniões. Maiores detalhes sobre o que levou o BC a seguir com o aperto na política monetária serão conhecidos na quinta-feira da semana que vem, quando será divulgada a ata deste encontro. Foto: Julio Bittencourt/Valor

Para João Rabêllo, do Banco Fibra, cenário autorizaria decisão mais suave O aperto nos juros ficou dentro do esperado pelo pelotão mais conservador do mercado financeiro. Mas havia uma boa parcela dos analistas que apostava em um aperto de apenas 0,25 ponto percentual na taxa. A nova alta na taxa básica deverá pressionar os gastos com juros da dívida pública. Segundo estimativas do BC, uma alta de 0,5 ponto percentual nos juros básicos tem um impacto negativo de 0,13 ponto percentual na relação entre dívida líquida do setor público e o PIB, caso o aperto na política monetária perdure por 12 meses. Em seus documentos oficiais, o BC tem dito que o aumento dos juros visa a combater pressões inflacionárias provocadas por pelo menos quatro fatores: 1) expansão da demanda em um ritmo que pode estar superando a capacidade de oferta na economia; 2) expectativas de inflação para 2005 (atualmente em 5,78%) acima da meta fixada para o ano (5,1%); 3) altas nos preços do atacado, que podem contaminar índices do varejo; 4) elevação da cotação do petróleo. Algumas dessas variáveis, como petróleo e expectativas de inflação, melhoraram desde novembro, o que fez alguns analistas econômicos preverem um ritmo mais suave de alta de juros. Para o diretor-superintendente do Banco Fibra, João Rabêllo, o BC agiu ontem preventivamente e para não contrariar uma expectativa de alta já consolidada no mercado. Subiu o juro em meio ponto mesmo sem ter justificativas muito preocupantes, mas porque já havia sinalizado, na ata da reunião de novembro do Copom, que faria um aumento de meio ponto. "Quatro meses de alta do juro já são suficientes para que, em janeiro, dê uma parada para observar como ficarão indicadores importantes como nível de reposição de estoques", diz Rabêllo. Para ele, dados como a queda de preço das commodities e o declínio do dólar até autorizariam uma decisão mais suave do BC, ou alta de 0,25 ponto ou mesmo a estabilidade. O consultor Miguel Daoud, da Global Advisor, diz que "não dá para entender a decisão" do Copom. "Só mesmo tendo uma bola de cristal para ver o que o BC está vendo e nós não", diz. Para o economista, o Copom está agindo em cima de preocupações que já não estão mais presentes. O cenário que conjuga desaquecimento internacional, queda das commodities, enfraquecimento do dólar e petróleo sob controle neutraliza os principais temores do BC. "O Copom parece estar muito preocupado com o descompasso de preços entre o atacado e o varejo. Mas o cenário indica que o varejo não irá sancionar os aumentos.", argumenta o consultor. Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Schahin, sustenta que "já era possível dar início à redução da alta da Selic" este mês - sua aposta era de uma alta de 0,25 ponto. Mas reconhece que "o fato de ter sido uma decisão unânime e o comunicado não trazer qualquer pista sobre o que levou à decisão de subir 0,5 ponto, nos deixa sem nenhum sinal". Ele acredita que agora as atenções têm que se voltar não apenas para a ata do Copom, mas para o próximo Relatório de Inflação que deve ser divulgado até o fim do ano. "O último relatório se referia a setembro", lembra Cristiano, período em que o dólar estava mais alto e a atividade econômica atingiu o pico do ano.