Título: FMI e Alemanha tentam nova investida para conter crise
Autor: Froymovich,Riva
Fonte: Valor Econômico, 06/10/2011, Finanças, p. C1

Novas iniciativas surgiram ontem como parte dos esforços para conter as crises gêmeas bancária e das dívidas soberanas da Europa. A Alemanha apresentou uma proposta para encorajar as autoridades nacionais da zona do euro a anunciarem medidas de proteção caso seus bancos enfrentem dificuldades, e um funcionário graduado do Fundo Monetário Internacional (FMI) disse que o órgão poderá ajudar a amparar os bônus dos países da zona do euro com problemas.

Em uma visita a Bruxelas, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, disse que os governos da zona do euro deveriam chegar rapidamente a um acordo sobre proteções para os bancos que dependam principalmente de medidas nacionais de apoio, mas que também possa recorrer ao fundo de resgate da zona do euro. "O tempo está passando. E assim isso deveria ser decidido rapidamente", disse Merkel.

Membros do governo alemão esperam que uma demonstração coordenada pelos governos da zona do euro de que eles possuem planos contingenciais para seus bancos venha a acalmar os mercados em seus temores de uma crise bancária na região.

Investidores temem cada vez mais que alguns bancos do bloco possam entrar em colapso sob o peso de suas exposições de crédito a países membros do euro que estão com problemas, como a Grécia. Os empréstimos interbancários definharam nos últimos meses, deixando muitos bancos dependentes da liquidez proporcionada pelo Banco Central Europeu (BCE).

A ideia do FMI entrar nos mercados de bônus - provavelmente pro meio de um veículo legal separado criado especialmente para esse propósito - seria endereçada para a outra perna da crise: o risco de mais países enfrentarem problemas de financiamento por causa da alta dos custos dos empréstimos. Ela complementaria um plano dos governos da zona do euro para permitir que o fundo de socorro da zona do euro possa comprar bônus governamentais.

O chefe do departamento do FMI dedicado à Europa, Antonio Borges, que anunciou a ideia em Bruxelas, disse que ela poderia impedir o agravamento da crise em países como a Espanha e a Itália.

Esses países, disse Borges, têm mais um problema de confiança do mercado do que de solvência. As compras de bônus pelo FMI poderiam ajudar a resolver esse problema, disse ele. O envolvimento do FMI em compras de bônus no mercado secundário da zona do euro daria um "elemento adicional de credibilidade por causa da condicionalidade que o FMI exige", acrescentou ele.

Os rendimentos dos bônus da Itália e da Espanha, a terceira e a quarta maiores economias dentre as 17 nações da zona do euro, vêm aumentando rapidamente desde o verão europeu [terceiro trimestre], com a intensificação dos temores sobre a capacidade da Europa de conter a crise. Apenas as compras de bônus pelo BCE impediriam uma alta maior dos rendimentos - mas o BCE já deixou claro que é um comprador relutante e quer que os governos assumam esse papel.

A proposta do FMI precisa percorrer um longo caminho para se tornar realidade: alguns membros do fundo acreditam que a Europa possui recursos próprios suficientes para resolver a crise e não precisa de mais ajuda. Borges disse que a ideia ainda não foi vetada pelos acionistas que comandam o fundo e que nenhum pedido formal foi recebido de membros da zona do euro solicitando financiamento adicional. Ele disse que o FMI poderia criar um veículo de propósito especial para comprar bônus sob estresse nos mercados secundário e primário.

Enfatizando os problemas que a crise da dívida soberana criou para os bancos, os governos da Bélgica e da França prosseguiram ontem com os planos para desmembrar o banco Dexia, que enfrenta problemas de financiamento por causa do nervosismo em relação à sua exposição às dívidas soberanas dos países com problemas.

O ministro das Finanças da França François Baroin disse ao parlamento francês que a ajuda estatal para o Dexia não prejudicaria a avaliação de crédito da França. "Isso não resultaria em um aumento da dívida pública, ou conforme alegam alguns, em uma ameaça para a classificação de crédito da França", disse ele.

Autoridades do governo alemão esperam que um sistema de proteção aos bancos possa impedir que problemas de financiamento ao estilo do Dexia venham a afetar a confiança em outros bancos.

Ele também daria à zona do euro mais liberdade para enfrentar o problema da dívida grega - incluindo possivelmente forçar os detentores de bônus gregos a arcarem com perdas significativas. Os investidores temem que alguns bancos europeus possam ter problemas para digerir as perdas que se seguiriam a uma grande reestruturação da dívida grega, a menos que os bancos recebam injeções de capital de autoridades nacionais ou europeias.

A França, que vem relutando em concordar com a imposição de perdas maiores aos detentores de bônus gregos, sugeriu que está mudando seu ponto de vista. Baroin disse que a extensão do envolvimento do setor privado no socorro à Grécia poderá ter de ser reexaminada depois da volatilidade registrada nos mercados financeiros no verão europeu.

Angela Merkel disse que os governos da zona do euro deveriam definir um "critério comum" para quando os bancos precisarem de mais capital. Os bancos deverão tentar captar recursos primeiro junto aos investidores privados, e depois junto às autoridades nacionais se não conseguirem recorrer ao mercado, disse ela. Se as autoridades nacionais não tiverem os recursos necessários, os bancos deverão recorrer ao principal fundo de resgate do bloco, a Linha de Estabilidade Financeira Europeia, EFSF na sigla em inglês.

O ministro das Finanças da Alemanha Wolfgang Schäuble ficou frustrado com a falta de progressos em alguns países quando os ministros das finanças da Europa discutiram a questão em Luxemburgo no começo desta semana, segundo informaram pessoas a par do assunto.

No entanto, o governo francês, está relutando em reativar suas medidas de socorro bancário que datam de 2008, segundo fontes. Paris estão muito preocupada com a possibilidade de perder a classificação de crédito "AAA", se as agências de avaliação de crédito decidirem que o país não pode arcar com novas e caras medidas de apoio aos bancos, disseram essas fontes.

Novas medidas para sustentar os bancos franceses com dinheiro dos contribuintes também afetariam as chances de reeleição do presidente Nicolas Sarkozy nas eleições que serão realizadas no segundo trimestre do ano que vem.