Título: Saldo comercial cairá 88% em 2012 e atingirá apenas US$ 3 bi, prevê AEB
Autor: Rittner,Daniel
Fonte: Valor Econômico, 21/12/2011, Brasil, p. A3

A balança comercial deverá levar um tombo em 2012 e registrar superávit de US$ 3,040 bilhões. Se esse número for confirmado, será o pior desempenho desde 2001 e significará uma queda de 88,7% na comparação com o provável resultado deste ano, segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).Conforme as estimativas da entidade, as exportações serão afetadas pela menor cotação das commodities, chegando a US$ 236,5 bilhões (-7,2%). Já as importações ficarão pressionadas pelos bens de consumo, devido ao aquecimento do mercado interno, e atingirão US$ 233,5 bilhões (alta de 2,4% sobre 2011).

"Esses dados são resultado do cenário internacional em crise, que deve provocar queda nas cotações das commodities, produtos que representam mais de 70% da pauta brasileira de exportações", diz José Augusto de Castro, da AEB. "As importações, cujos produtos manufaturados representam mais de 80% na pauta, poderão ser superficialmente impactadas pela crise externa, pois o governo está adotando medidas fiscais e monetárias para manter o mercado interno aquecido."

As projeções levam em conta uma taxa de câmbio média de R$ 1,80 - variando entre R$ 1,75 e R$ 1,85 -, gerando rentabilidade na exportação de manufaturados para "poucos setores" e falta de competitividade para a "grande maioria", enquanto "não desestimula" as importações. Também considera um crescimento de 3% do PIB e expansão de 15% no volume de crédito interno, além de queda no valor de commodities.

Os preços de produtos como minério de ferro, milho, soja em grãos e farelo de soja devem cair entre 18% e 22%. A queda afetará principalmente mercadorias negociadas em bolsa, consideradas ativos financeiros, que operam com grande alavancagem e volatilidade, segundo avalia a AEB.

O relatório da associação faz uma advertência: "Dependendo da evolução da crise internacional, a hipótese de déficit na balança comercial em 2012, o primeiro após os US$ 731 milhões apurados no ano 2000, não deve ser descartada". Com isso, haverá deterioração da conta de transações correntes, podendo gerar necessidade de captar mais recursos externos ou consumir parte das reservas.

Em 2012, a queda das exportações será puxada pelos produtos básicos (-11,2%), mas também afetará os semimanufaturados (-9,4%, com destaque para alumínio em bruto e cacau em pó) e os manufaturados (-1,5%, com variações maiores para papel e cartão, açúcar refinado e laminados planos).

A alta das importações abrangerá bens de capital (3,6%), bens intermediários (1,7%), bens de consumo não duráveis (7,2%, principalmente produtos farmacêuticos e têxteis) e bens duráveis (11,7%, com destaque para automóveis). Só combustíveis e lubrificantes terão queda das importações (-5,6%), gerando economia de quase US$ 2 bilhões, segundo a AEB.

A estimativa da entidade é sempre aguardada com expectativa pelo mercado, por causa de sua precisão. Em dezembro de 2010, a entidade divulgou projeção de superávit de US$ 26,1 bilhões neste ano. Esse foi exatamente o saldo verificado pelo Ministério do Desenvolvimento até a terceira semana de dezembro.