Título: Fome está restrita ao NE, diz professor
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 17/12/2004, Brasil, p. A-3

Os números da nova POF reabrem a polêmica discussão sobre o número de famintos no Brasil e sobre qual deve ser o foco das políticas públicas sociais. Para o professor da USP, Carlos Augusto Monteiro, a pesquisa não dá sinais de desnutrição, o que abala um pouco as estatísticas que mostram que existem 30 a 40 milhões de pessoas que passam fome no Brasil. No seu entender, essas macroestatísticas baseiam-se exclusivamente em renda. "A renda vai mostrar a pobreza, a dificuldade, a escassez, mas não necessariamente vai revelar a falta de acesso à alimentação. Esta relação automática é complicada", afirma. No seu entender, a nova POF fornece informações mais objetivas e diretas sobre o contingente da população privada de alimentos. "A pesquisa informa isto não com a precisão que a gente gostaria. Mas mostra que em boa parte do país, nas regiões Centro Oeste, Sudeste e Sul, o problema da fome é muito pequeno. Por este dado mais objetivo, que é o da composição corporal, vê-se que este problema (da fome) está restrito sobretudo à região Nordeste", afirmou. A Organização Mundial da Saúde (OMS) informa que quando se tem menos de 5% da população com déficit corporal (déficit de peso), não há risco de desnutrição no país. E, em várias regiões do Brasil, já há menos de 5% de desnutridos. "Nenhuma região do Brasil tem déficit nutricional acima de 10%", afirma Monteiro. Para se ter uma idéia, ele lembrou que, no Haiti, há 20% da população adulta com déficit ponderal, na Etiópia, chega a 40%, e na Índia, a 50%. "Essas são regiões onde a fome existe, sem dúvida alguma". Para ele, no Brasil, a situação é de menor risco. "Você tem ainda no semiárido nordestino evidências de que uma parte da população não tem o mínimo acesso aos alimentos. Por outro lado, se vê que esse problema, que é o mais importante, vem sendo reduzido. Então, o governo tem de focalizar os programas para combater a fome e eles têm que ser eficazes. Tem que acabar com a fome nessas regiões. O problema da fome não tem essa magnitude que se vê a partir dos dados de renda".