Título: Prazo alivia temor de bancos
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Fonte: Correio Braziliense, 14/09/2010, Economia, p. 16

Regras mais brandas sobre capitalização de instituições financeiras animam bolsas de valores no mundo

Basileia As novas regras de capital bancário acertadas por reguladores globais deram alívio aos bancos, tendo em vista o tempo maior para que instituições mais fracas levantem os recursos necessários e a liberdade para as mais fortes gerenciarem dividendos. Mas os maiores bancos internacionais ainda enfrentam desafios para combater a preocupação de que as instituições consideradas grandes demais para falir assumam riscos que possam afetar todo o sistema financeiro.

Investidores receberam bem a implementação gradual dos novos padrões de capital, minimizando comentários de um dos criadores de que o setor teria de, eventualmente, levantar centenas de bilhões de euros. As ações dos bancos dispararam nos principais mercados. As autoridades concordaram e perceberam que precisam deixar os bancos se recuperarem primeiro e começar a emprestar para participar na recuperação, disse Guy de Blonay, que participa da administração de 1,4 bilhão de libras do Financial Opportunities Fund.

As novas exigências de Basileia III obrigarão os bancos a manter capital de qualidade, totalizando 7% dos ativos de risco, mais que o triplo da quantia atual. O longo prazo de adequação aliviou temores sobre a necessidade de levantar capital. A Europa é a região mais provável em que bancos devem levantar recursos, especialmente na Alemanha e na Espanha. A nova exigência de capital representa um aumento substancial frente ao nível atual de 2%, mas é consideravelmente menor do que o temido pelos bancos. Além disso, o período de implementação pode se estender, em parte, até janeiro de 2019.

Compromisso

Presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet disse que os reguladores conseguiram um bom equilíbrio entre fortalecer o capital e permitir a concessão de crédito pelos bancos, mas afirmou que continua sendo um trabalho progressivo. Para ele, as exigências de capital mais duras não prejudicam a recuperação econômica mundial.

O vice-presidente do Banco Central alemão, Franz-Christoph Zeitler, informou que os bancos alemães precisam levantar uma quantidade significativa de capital para cumprir as regras de Basileia III, mas chamou o acordo de compromisso justificável para a Alemanha. Se você comparar o resultado de hoje com o que estava sendo proposto originalmente, é um compromisso facilmente justificável, declarou Zeitler. Mas, a seu ver, a necessidade de capital entre as instituições alemãs é menor do que a assumida por algumas associações bancárias.

Brasileiros acima da exigência

Vânia Cristino

Os bancos brasileiros, ao contrário dos europeus, estão supercapitalizados. Mesmo antes de Basileia III, o Banco Central brasileiro já exigia um percentual mínimo de 11% de capital próprio para suportar vários riscos, inclusive de crédito, enquanto na Europa esse percentual gira em torno de 8% a 9%. Em junho, o BC alterou o cálculo do capital mínimo exigido dos bancos a fim de que suportassem as situações de estresse, como a da crise financeira de 2008. A nova exigência só entrará em vigor, de forma gradativa, em janeiro de 2012.

Pelos dados do BC, as instituições brasileiras operavam, em março último, com sobra de capital. O índice de Basileia total do sistema era da ordem de 18,29%, o equivalente a R$ 438 bilhões. Mesmo com o reforço de capital exigido, de cerca de R$ 15 bilhões, essa situação pouco mudará. Pelos cálculos do BC, sem nenhum aporte de capital adicional e mantida a situação atual, o Índice cairia para 17%, ainda assim bem superior aos 11% determinados. Na Basileia, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que o sistema financeiro do país estará pronto para as novas regras a partir de 2013.

Dólar tem o menor valor

Vera Batista

O dólar fechou ontem na menor cotação do ano, negociado a R$ 1,715 no fim do dia, com desvalorização de 0,29%. É a posição mais baixa desde 3 de dezembro do ano passado, quando encerrou em R$ 1,709. O Banco Central fez dois leilões de compra da moeda para tentar segurá-la em relação ao real, mas não obteve sucesso. O motivo para a queda é a expectativa de entrada de recursos no país por causa da capitalização da Petrobras. A Bolsa de Valores de São Paulo teve alta de 1,83%, chegando a 68.030 pontos. Em Nova York, o índice Dow Jones subiu 0,78%.

O investidor brasileiro ficará mais protegido de quedas abruptas na cotação dos ativos negociados em bolsa. A BM&FBovespa criou uma nova ferramenta para evitar discrepâncias na variação de preço das ações. O limite intradiário entrará em vigor no dia 17 e será acionado cada vez que um negócio for fechado com valor 15% acima ou abaixo do preço-base do início da sessão. Gustavo Gazaneo, gestor da SLW Asset, disse que o mecanismo é bem-vindo. Os índices futuros já têm limites de 10% para a alta ou para a baixa e foi o que evitou maiores problemas durante a crise econômica de 2008, afirmou.