Título: Richa enfrenta 1ª batalha da reeleição na disputa municipal
Autor: Lima ,Marli
Fonte: Valor Econômico, 21/12/2011, Política, p. A9

A recente invasão da Assembleia Legislativa do Paraná por 250 pessoas contrárias à proposta de repassar a organizações sociais serviços de responsabilidade do Estado mostra que, apesar de contar com o apoio de 46 dos 54 deputados, o governador Beto Richa (PSDB) não encerra o primeiro ano do mandato com a mesma tranquilidade de quando era prefeito de Curitiba. Para driblar os manifestantes, a medida foi aprovada tarde da noite e o PT planeja ir à Justiça para derrubá-la.

No balanço da gestão, o tucano diz que "os avanços foram significativos", mas dá nota sete para seu governo e fala em avançar com mais velocidade em 2012, ano em que terá peso na eleição de prefeitos, em especial para seu ex-vice na capital, Luciano Ducci (PSB), que poderá ajuda-lo na reeleição em 2014, ano em que ele deve enfrentar nas urnas a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.

Na opinião do cientista político Ricardo Oliveira, da Universidade Federal do Paraná, o governador frustrou muitas das expectativas que gerou e, por isso, vai ter de produzir uma agenda positiva. "O semáforo amarelo está aceso", diz.

Entre os projetos relevantes aprovados na Assembleia, a criação da Defensoria Pública no Estado, no primeiro semestre, é lembrado como algo positivo, mas a elevação de taxas no Detran em até 231% e a possibilidade de criar novas praças de pedágios em rodovias do interior são assuntos que ainda vão render críticas e serão lembrados por adversários políticos, assim como a necessidade de trocar o comando da Polícia Militar, porque o ex-comandante Marcos Scheremeta tinha ligações com operadores de jogos de azar. Procurado pelo Valor, Richa não deu entrevista.

"Ele ainda não terminou o período de transição", critica o deputado estadual Ênio Verri, presidente do PT no Paraná e líder da oposição na Assembleia. "Está fazendo processo eleitoreiro e acumulando para investir ano que vem". Sobre a nota 7 dada pelo tucano, o petista discorda. "Com 7, passa de ano. Eu o reprovaria. Daria 4,5".

Richa tem destacado que ultrapassou uma de suas metas - previa redução de 15% nos gastos com custeio e chegou a 19%, o que resultou em economia de R$ 70 milhões, embora tenha ampliado o número de comissionados na equipe. Ele também faz questão de lembrar que tem contado com o apoio do governo federal, como a liberação de R$ 135 milhões para construção, reforma e ampliação de presídios, mas admite que é preciso avançar em segurança pública e reduzir a criminalidade.

O professor Oliveira diz que o modelo de terceirização que está sendo proposto pelo tucano o aproxima do ex-governador Jaime Lerner, de quem Richa tentou distanciar-se na campanha eleitoral. Ele também lembra que um dos secretários de Richa, Ricardo Barros, da Indústria e Comércio, tentou eleger-se presidente da Federação das Indústria (Fiep) e perdeu. "O que mostra desgaste com o empresariado", explica.

Em relação ao preço dos pedágios, tema sempre presente nas disputas políticas, o tucano alega ter refeito o diálogo com as concessionárias de rodovias. No começo de dezembro entraram em vigor novas tarifas, com reajuste de 4,53%. Em nota, o governo argumentou que o índice ficou abaixo da inflação dos últimos 12 meses medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que foi de 6,66%.

No campo político, a opção de Richa por apoiar Ducci fez com que o ex-deputado federal Gustavo Fruet, um dos nomes mais fortes para disputar a prefeitura de Curitiba, buscasse outro partido - ele foi para o PDT. Um dos integrantes do PSDB com maior chance de sair como candidato a vice era o presidente da Câmara de Vereadores, João Claúdio Derosso, que foi afastado do partido e responde por denúncias de irregularidades nos contratos de publicidade da Câmara. Investigação do Ministério Público concluiu que houve direcionamento na contratação de agências de publicidade e a empresa da esposa do vereador, Cláudia Queiroz, foi beneficiada.

Richa evita falar das eleições de 2012. Em discursos recentes, tem destacado a atração de investimentos para o Paraná, por meio de incentivos fiscais. Em texto divulgado por sua assessoria sobre o balanço da gestão, Richa adiante que em 2012 "será possível colocar em prática os programas do plano de governo com recursos de financiamentos e com a recuperação da capacidade de investimentos do Estado". Em dez meses a receita do governo aumentou 14,72% em relação a igual período de 2010. "As cobranças à equipe serão maiores no próximo ano, quando o governo dará início a uma fase de investimentos vigorosos e mais intensos", ressaltou.

Esta é o primeiro conjunto de reportagens de balanço do primeiro ano dos governadores e as perspectivas para 2012 que o Valor publica esta semana