Título: Déficit de transações com exterior será de US$ 65 bi
Autor: Izaguirre,Mônica
Fonte: Valor Econômico, 21/12/2011, Finanças, p. C9

O Brasil terá, em 2012, um déficit maior em suas transações correntes com o exterior e menos capitais estrangeiros para financiá-lo, comparativamente a 2011. Segundo projeções do Banco Central (BC), enquanto o déficit pulará de US$ 53 bilhões para US$ 65 bilhões, o ingresso líquido de capitais recuará de US$ 110 bilhões para US$ 70 bilhões.

Entre os recursos que vão encolher estão os investimentos estrangeiros diretos (IED). O BC projeta para ano que vem entrada líquida de US$ 50 bilhões nessa modalidade, US$ 15 bilhões a menos do que em 2011. Faltando apenas dez dias para encerrar o ano, a autoridade monetária já havia constatado ingresso de US$ 64,35 bilhões este ano.

Os empréstimos de médio e longo prazos cairão ainda mais. O fluxo líquido respectivo está projetado em apenas US$ 6,2 bilhões positivos, ante US$ 44,7 bilhões em 2011, ano de fartura de capitais para o Brasil, até agosto. O chefe do departamento econômico do BC, Tulio Maciel, ponderou, no entanto, que isso é "mais uma hipótese de trabalho" do que projeção. Por conservadorismo, explicou, o BC costuma trabalhar sempre com a hipótese de rolagem de 100% da dívida desses empréstimos, o que significa fluxo líquido zero. Para 2012, portanto, a autoridade monetária está sendo até menos conservadora, ao prever rolagem ligeiramente superior a 100%. Estão considerados tanto empréstimos diretos quanto captações mediante emissão de títulos.

Por outro lado, os investimentos estrangeiros em ações deverão dobrar, subindo para US$ 12 bilhões. As previsões sobre o movimento de capitais levam em conta também os investimentos brasileiros diretos no exterior (IBD). A expectativa é de que saiam do país US$ 5 bilhões em função desses investimentos, movimento inverso ao de 2011, quando os brasileiros repatriaram US$ 11 bilhões.

O déficit esperado em transações correntes (comércio, serviços, transferências unilaterais e de renda) será o maior da história em termos nominais, caso se confirme. O de 2011 também supera todos os anteriores pelo mesmo critério. Como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), no entanto, no passado, o país já viu rombos maiores em suas contas externas. Em 2001, por exemplo, a conta de transações correntes com o exterior foi deficitária em 4,19% do PIB. Para este e o próximo ano, as projeções do BC equivalem respectivamente a 2,14% e 2,44% do PIB.

Os US$ 53 bilhões previstos para este ano pressupõe que o déficit de dezembro irá superar US$ 7 bilhões, recorde mensal, pois até novembro os gastos externos correntes do país já tinham superado as respectivas receitas em US$ 45,83 bilhões.

A queda de desempenho da balança comercial, parte importante das transações correntes, responde por boa parte da elevação do déficit esperada para 2012. O BC projeta saldo comercial de US$ 23 bilhões, US$ 5 bilhões abaixo do número praticamente já confirmado de 2011. Maciel explica que levou em consideração os efeitos da crise internacional, que reduzirá o fluxo mundial de comércio.

Por outro lado, ele não vê elementos que permitam atribuir à crise o aumento das remessas de lucros e dividendos ao exterior. Para fazer tal vinculação, "seria necessário um fluxo contínuo em patamar alto", argumenta Maciel, lembrando que o fluxo mensal desses gastos, que chegou a US$ 4,2 bilhões em novembro, tem se mostrado volátil, alternando momentos de alta e de queda.

Em 2012, o valor anual das remessas de lucros e dividendos crescerá, mas proporcionalmente menos do que cairá o saldo comercial. Pelas projeções do BC, chegará a US$ 39,6 bilhões, ante US$ 38 bilhões em 2011. Maciel acha natural que essas remessas tenham aumentado nos últimos anos. Afinal, a maior parte corresponde à remuneração de investimentos estrangeiros diretos, considerados o capital estrangeiro mais saudável para o país.

Embora menor, a conta de juro responde por uma parcela maior do aumento de US$ 12 bilhões esperados no déficit em transações correntes. As despesas com esse item subirão US$ 2,8 bilhões, chegando a US$ 12,2 bilhões.

Dentro da conta de serviços, o que se destaca são os gastos com aluguel de equipamentos. Pelas projeções do BC, o país deverá desembolsar com isso US$ 19 bilhões, US$ 2,7 bilhões a mais do que em 2011. O BC não vê nisso qualquer preocupação, pois esse tipo de despesa está relacionado com o nível da atividade econômica interna.

Depois do forte aumento visto em relação a 2010, os gastos com viagens internacionais vão ficar praticamente no mesmo patamar deste ano, de US$ 14,5 bilhões.