Título: "Dobradinha" interna e externa anima setor industrial
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2004, Brasil, p. A4

A expectativa de crescimento mais forte do mercado interno e também a aposta nas exportações têm levado as empresas a ampliarem investimentos. Há uma visão de usar o Brasil como plataforma de exportação, em casos como o Siemens e da finlandesa Elcoteq, e de explorar o exterior, como para o grupo M. Dias Branco. Aluizio Byrro, da Siemens, por exemplo, diz que a empresa exporta cerca de 10% a 20% da produção de celulares, e que a expectativa é elevar esse percentual para a casa de 40%. A finlandesa Elcoteq está montando fábrica em Manaus, para produzir celulares e outros equipamentos sem fio. A empresa não revela o valor a ser investido. O ministério fala em US$ 180 milhões. A idéia da empresa é atender o mercado interno, de acordo com Doug Brenner, presidente da Elcoteq Americas, e também usar a fábrica em Manaus para exportar para outros países da América Latina. O grupo M. Dias Branco, do Ceará, está fazendo dois investimentos que devem ser concluídos neste ano. Um em Aratu, na Bahia, envolve um moinho, uma fábrica de massa e biscoitos e um terminal portuário e foi iniciado há dois anos. O valor total do investimento é de R$ 500 milhões, dos quais R$ 150 milhões foram desembolsados neste ano. O outro investimento ocorre em Cabedelo, na Paraíba, para um moinho e uma fábrica de massas, no valor de R$ 150 milhões. A idéia é ampliar a participação no mercado interno e também exportar mais, já que hoje pouca coisa é vendida no exterior. O diretor de finanças do grupo M. Dias Branco, Geraldo Luciano, diz que a aposta no crescimento do emprego e da renda animaram a empresa, já que o consumo de alimentos responde positivamente à melhora do mercado de trabalho. A Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) já contratou 90% dos pacotes do projeto de expansão, que irá demandar investimentos de US$ 600 milhões para elevar a produção de aço bruto da empresa de 5 milhões para 7,5 milhões de toneladas anuais de aço bruto, a partir de julho de 2006. Os restantes 10% dos serviços e equipamentos estarão sendo contratados nas próximas semanas, informou recentemente o diretor financeiro da CST, Leonardo Horta. As obras do projeto de expansão começaram em agosto. Segundo a assessoria de imprensa da CST, os trabalhos estão dentro do cronograma. O trabalho de concretagem da base principal do alto-forno 3 já foi concluído. A Souza Cruz vai investir R$ 312,4 milhões entre este ano e 2009 para ampliar as operações no Rio Grande do Sul e transformar o Estado na plataforma principal para eventuais aumentos de produção de cigarro no país. Do valor total, 84% serão aplicados na unidade industrial inaugurada em maio do ano passado em Cachoeirinha, na região metropolitana de Porto Alegre (modernização iniciada em maio deste ano), e o restante permitirá a modernização do centro de processamento de fumo em Santa Cruz do Sul. O contrato que prevê incentivos fiscais do governo gaúcho para o novo projeto foi assinado em maio. A General Motors do Brasil inaugurou no fim do mês passado as obras de expansão da fábrica de Gravataí, na região metropolitana de Porto Alegre, que permitirão o lançamento de um novo modelo de carro no primeiro semestre de 2007. O investimento, de US$ 240 milhões, irá aumentar a capacidade instalada de 120 para 220 mil veículos/ano e ampliar o número de empregados da montadora e dos "sistemistas" (fornecedores que operam no mesmo complexo) de 3,5 mil para 5 mil pessoas e também recebeu novos incentivos fiscais do governo gaúcho. O grupo brasileiro Caoa está investindo US$ 205 milhões na construção da primeira fábrica no país da Hyundai, maior montadora da Coréia do Sul, na cidade de Anápolis (GO). O projeto está ainda em fase inicial, com as obras de terraplanagem. A empresa espera iniciar as obras civis em novembro e produzir o primeiro modelo em dezembro do próximo ano. O primeiro veículo que sairá da fábrica será o Porter, mini-caminhão da empresa coreana. Quando as três linhas de montagem estiverem em operação, previsto para o fim de 2007, a fábrica terá capacidade para 57 mil veículos por mês. Todo o investimento será feito com capital nacional. A empresa entrou com um pedido de financiamento no BNDES. A IBM anunciou, em março, o plano de investir US$ 100 milhões no Brasil em dois anos, para comprar empresas brasileiras especializadas em áreas consideradas prioritárias pela multinacional ou criar, do zero, esses negócios. A companhia já investiu uma parte pequena do orçamento, de valor não revelado, em iniciativas locais para estimular o desenvolvimento e a criação do sistema operacional Linux, de código aberto. A maior parte do orçamento, contudo, será dedicada às aquisições. A caça às oportunidades, aliás, está em estágio avançado. "Até o fim do ano, esperamos anunciar nosso primeiro negócio", conta Rogério Oliveira, gerente geral da IBM Brasil. Para o primeiro semestre do ano que vem, está em vista um projeto ainda maior, diz o executivo, sem dar detalhes. O plano de investimento da IBM é parte da decisão da matriz de incluir o Brasil em um grupo restrito de mercados, definidos internamente como "Emerging Business Oportunity", nos quais a corporação americana quer acelerar seu processo de crescimento. Além do Brasil, fazem parte do clube apenas a China, a Índia, e a Rússia. O grupo Votorantim confirmou na semana retrasada, com revisão de valores, seu investimento de US$ 200 milhões na expansão da Siderúrgica Barra Mansa. As obras começam no início de 2005. Com isso, vai duplicar a capacidade de usina na produção de aços longos --- vergalhões, perfis e outros tipos - até 2007. O banco pretende obter de 30% a 40% de financiamento do BNDES. Toda a produção será destinada para atender crescimento da demanda do mercado interno na região Sudeste. A Alcoa aprovou neste ano investimento de US$ 130 milhões na fábrica de alumínio da Alumar, localizada em São Luís (MA), dentro do programa de US$ 1,5 bilhão projetado para o Brasil até 2007. A obra - uma nova linha de fabricação de alumínio primário - teve início em setembro e a previsão é que fique pronta entre setembro de 2005 e janeiro de 2006. Esse projeto sai da gaveta depois de vários anos de congelamento. Um dos motivos era a falta de garantia de suprimento de energia para a fábrica. O problema já não existe mais: um acordo com a Eletronorte garante energia até 2024. (SL, SB, FG, JR, IR e CP)