Título: Projetos saem do papel, mas ritmo de execução é lento
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2004, Brasil, p. A4
No primeiro semestre deste ano, cerca de 50 empresas anunciaram investimentos superiores a US$ 100 milhões, envolvendo serviços, infra-estrutura e também novas fábricas ou projetos de ampliação de unidades fabris já existentes, segundo levantamento feito pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic). O acompanhamento destes projetos mostra que aqueles que envolvem ampliação da capacidade produtiva estão em ritmo mais lento de execução, enquanto na área de infra-estrutura e serviços, os investimentos seguem mais aceleradamente. De comum, as empresas enfrentam problemas de crédito e diferentes burocracias, como a dificuldade na obtenção de licenças ambientais ou a liberação de recursos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Empresas como Coinbra e Termelétrica Norte Fluminense, por exemplo, anteciparam recursos do próprio caixa para bancar um projeto aprovado pelo BNDES, mas cujo desembolso efetivo atrasou. O Valor procurou a maior parte dessas 50 empresas e obteve retorno de 70% delas. Outras não quiseram falar de seus investimentos. A checagem do ritmo de execução dos projetos revelou outro dado preocupante: o governo pode estar superestimando os negócios em andamento. Pelo levantamento do Mdic (feito com base em informações do próprio ministério, BNDES, Zona Franca de Manaus, notícias veiculadas na mídia, instituições estaduais de fomento e entidades empresariais de classe ), foram anunciados no primeiro semestre deste ano um total de US$ 56,5 bilhões em investimentos. O valor de muitos projetos, contudo, é bastante inferior ao descrito no levantamento do Mdic. Entre aqueles checados pela reportagem, consta um projeto da Siemens de US$ 350 milhões na expansão de uma fábrica de telefone celular, a ser iniciado neste ano. Na verdade, a empresa está investindo cerca de US$ 30 milhões, dos quais dois terços para triplicar a produção de celulares e um terço para a fabricação de telefones da rede fixa com fio e sem fio. O vice-presidente e diretor de telecomunicações da Siemens, Aluizio Byrro, também informa que a empresa deve investir neste ano outros US$ 30 milhões em pesquisa e desenvolvimento e não sabe de onde saiu a informação de que a Siemens planejaria desembolsar US$ 350 milhões na fábrica. Outro caso em que há exagero é o do Grupo Tio Jorge, que vai investir US$ 10 milhões numa usina de beneficiamento de arroz em Vila Rica, no Mato Grosso, e R$ 5 milhões num centro de distribuição em São Paulo. No relatório do ministério, os projetos estão orçados em US$ 103 milhões. A usina deve ser concluída em dezembro e o centro de distribuição, neste mês. Entre as indústrias, General Motors, Companhia Siderúrgica de Tubarão, Siemens, Coinbra, Elcoteq, entre outras, anunciaram e começaram a tocar projetos de expansão esse ano. Pelo menos, a CST e a Coinbra, tiveram os projetos aprovados pelo BNDES, mas não ficaram paradas à espera dos recursos do banco. A Coinbra, do grupo francês Louis Dreyfus, obteve em 2004 financiamento de R$ 168,3 milhões junto ao BNDES para ampliar suas produções nas áreas de soja e laranja, projetos que envolveram, no total, aporte de R$ 436 milhões. Conforme Fernando Engelberg de Moraes, vice-presidente da empresa, os projetos estão concluídos, apesar dos recursos do BNDES ainda não terem sido totalmente repassados à empresa. O repasse está entre 55% e 60% do total. Muitas empresas estão concluindo projetos antigos, como Embraer e Veracel, mas estão no levantamento do Mdic. A Embraer tem um projeto de US$ 1 bilhão em andamento desde 99 e a maior parte será concluída até 2006. O projeto prevê o desenvolvimento de quatro modelos da família 170/190. O investimento anual da empresa fica em torno de 10% do faturamento. (Sergio Lamucci, Vera Saavedra Durão, João Rosa, Fernando Lopes, Francisco Góes, Ivo Ribeiro e Carlos Prieto)