Título: Fuga para nunca mais
Autor: Rizzo, Alana; Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 16/09/2010, Política, p. 2

Irmão da ministra Erenice retirou documentos da Editora UnB momentos antes de operação da Polícia Federal

Desaparecido do cargo de assessor do Departamento de Auditoria da Novacap desde o início desta semana, José Euricélio Alves de Carvalho irmão da ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra protagonizou uma fuga memorável há dois anos. À época, ele despachava na Editora UnB, localizada no prédio 78, do Setor Comercial Sul. Ali, em 13 de maio de 2008, ao ser informado que a Polícia Federal faria apreensão de documentos e computadores, Célio, como é conhecido por amigos, tirou o disco rígido da máquina, juntou documentos e fugiu antes da entrada dos agentes. O HD e os papéis que não chegaram às mãos dos investigadores da PF traziam detalhes de contratos. Célio era gestor de projetos negociados com empresas e instituições, posteriormente acusadas de abastecer o esquema de corrupção no Governo do Distrito Federal, desmantelado na Operação Pandora.

Durante a permanência na UnB, o irmão de Erenice gerenciou pelo menos R$ 33,7 milhões em recursos federais repassados a seu setor de coordenação por meio de convênios. A fuga de Célio, que deixou o local com documentos embaixo do braço e nunca mais voltou, nem mesmo para receber a rescisão contratual, ocorreu em meio às investigações do escândalo da UnB de desvio de dinheiro público. Na universidade, o irmão de Erenice cuidava das contas da Fundação de Apoio à Pesquisa (FAP) do Distrito Federal e de outros quatro projetos de inclusão digital apontados, pela Operação Pandora, como foco de desvio de dinheiro na administração de José Roberto Arruda.

O atual diretor da Editora UnB, Norberto Abreu, antecipou ontem ao Correio boa parte do relato que fará à Controladoria-Geral(1) da União. Norberto foi convocado a prestar depoimento na CGU segunda-feira para falar sobre o esquema de desvio de verbas envolvendo o irmão da ministra da Casa Civil. Em maio de 2008, com menos de um mês na direção da Editora, recebi uma ligação informando sobre a presença da Polícia Federal no prédio para fazer a apreensão de computadores. Não sei como a informação chegou, mas o Célio saiu e levou tudo. Depois disso, ele sumiu, disse Abreu.

O irmão de Erenice atuava como coordenador executivo da extinta Agência de Desenvolvimento Institucional (ADI), órgão que usava o CNPJ da Editora UnB para fechar contratos e transações. A entidade que acabou logo depois da investigação da PF movimentava cerca de R$ 98 milhões dos R$ 99 milhões creditados como receita da editora. Entre os contratos suspeitos citados na Pandora, e com participação gerencial do irmão de Erenice, estão acordos com a Adler e a Tecnolink. Os negócios foram intermediados pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) e o Instituto Candango.

Convênios

Além de recursos do GDF, a FAP mantém convênios com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pagos pelo Ministério de Ciência e Tecnologia. A entidade também tem parceria com o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam). No órgão, ligado à Presidência da República, está lotado Stevan Knezevic, sócio da empresa Capital, de propriedade do filho de Erenice, Israel Guerra. A empresa é investigada por tráfico de influência no governo. O secretário de Ciência e Tecnologia do GDF, Divino Valero, afirmou que o convênio da Censipam com a FAP é recente e não quis comentar o assunto.

1 - Contratação suspeita

À frente de projetos da Editora UnB, o irmão da ministra é responsabilizado pela Controladoria-Geral da União (CGU) por fraudes na contratação de pessoal. Euricélio repassou dinheiro até mesmo para o sobrinho Israel Guerra, filho de Erenice, conforme noticiou ontem o Correio. As irregularidades ocorreram durante a gestão do ex-reitor Timothy Mulholland e Alexandre Lima, à época diretor da Editora UnB.

"Não sei como a informação chegou, mas o Célio saiu e levou tudo. Depois disso, ele sumiu

Norberto Abreu, atual diretor da Editora UnB

O número

R$ 33,7 milhões

Valor gerenciado pelo irmão de Erenice durante o tempo em que permaneceu na UnB