Título: Telecom é destaque na área de serviços
Autor: Talita Moreira, Carolina Mandl, Chico Santos, João
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2004, Brasil, p. A5

Depois de cumprirem as exigências fixadas nos contratos de privatização, as companhias de telefonia partiram para um segundo momento do setor. Os fortes investimentos realizados na infra-estrutura básica, para universalização da telefonia fixa, deram lugar aos projetos de banda larga e telefonia móvel. Telefônica, Brasil Telecom (BrT) e Telemar, as três grandes concessionárias do setor, estão investindo juntas R$ 5,1 bilhões este ano. Somente a Telemar investiu R$ 1,1 bilhão nos primeiros meses do ano e, segundo afirmou seu diretor financeiro, Marcos Grodetzky, durante apresentação do balanço do terceiro trimestre, deverá gastar mais R$ 900 milhões até dezembro. A Telesp, concessionária de telefonia fixa controlada pela Telefônica, deve cumprir até dezembro o investimento de R$ 1,4 bilhão previsto para o ano. De janeiro a setembro, a empresa desembolsou R$ 883,1 milhões. O diretor-geral da Telefônica, Manoel Amorim, afirma que entre 20% e 25% dos gastos são direcionados à ampliação da rede de banda larga e no próximo ano não deve ser diferente. O segmento é o que mais cresce na operadora. "O futuro saudável de uma operadora de telefonia fixa depende de quão bem vamos nos posicionar em banda larga", diz. A BrT investiu neste ano os US$ 350 milhões que estavam previstos até 2005 para a rede de telefonia móvel. Somadas as despesas com marketing para lançar o serviço, a operadora deve investir R$ 1,7 bilhão de janeiro a dezembro na área de celular - número que consta do levantamento feito pelo Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (Mdic). Ao comentar o balanço do terceiro trimestre, a presidente da BrT, Carla Cico, afirmou que a operadora vai apostar nos segmentos de banda larga e mercado corporativo em 2005. Com outra estratégia de atuação no mercado, a Embratel investiu R$ 414 milhões nos primeiros nove meses deste ano. A maior parte foi direcionada aos serviços de telefonia local da operadora, que tradicionalmente atuava em longa distância. Em todo o ano, serão gastos entre R$ 700 milhões e R$ 900 milhões e não deve haver mudanças em 2005, segundo o presidente Carlos Henrique Moreira. A TIM é uma das poucas empresas que devem investir os valores que constam no relatório do ministério. O presidente da empresa, Mario Cesar Pereira de Araujo, está aplicando "cerca de US$ 1 bilhão no Brasil em 2004, com foco na expansão da rede e no desenvolvimento de negócios". Boa parte desse dinheiro refere-se à modernização da rede no padrão TDMA para o GSM. Investimentos importantes também estão sendo realizados no setor de energia. Furnas Centrais Elétricas deve investir este ano um total de R$ 968,75 milhões, basicamente para obras de expansão e modernização de linhas de transmissão (52% do total) e para a modernização das usinas geradoras existentes (20%). As novas linhas de transmissão ligam Cachoeira Paulista a Adrianópolis (RJ) e Ouro Preto (MG) a Vitória (ES). Elas irão absorver 40% do investimento total. A primeira está operando desde maio e a segunda entra em funcionamento em março de 2005. Os destaques nos investimentos destinados à modernização de usinas (cerca de R$ 194 milhões) são as usinas hidrelétricas de Mascarenhas de Moraes (476 MW) e de Furnas (1.216 MW), ambas com mais de 30 anos de funcionamento. As obras na primeira só deverão ser concluídas em 2007 e na segunda, em 2008. Ainda que minoritária, a Petrobras está presente no maior projeto do setor elétrico previsto para entrar totalmente em operação neste ano, a Termelétrica Norte Fluminense, em Macaé (RJ), ao custo de US$ 550 milhões e potência instalada de 787 megawatts. A estatal participa com apenas 10% do projeto, sendo os 90% restantes da francesa EDF (Eléctricité de France), controladora da Light Serviços de Eletricidade. Cerca de 50% da usina teve financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no valor total de R$ 750 milhões. Do investimento total, falta aplicar apenas cerca de US$ 25 milhões. O levantamento do ministério aponta dois grandes investimentos também no setor hoteleiro. A Atlantica Hotels anunciou um pacote de 37 empreendimentos entre 2004 e 2006, com um aporte total de US$ 276 milhões. De acordo com Christer Holtze, vice-presidente de operações da Atlantica Hotels, até agora saíram do papel oito projetos. Mais três ou quatro devem ter início até o fim do ano. A empresa estava mais otimistas e esperava chegar a 12 contratos assinados até o momento. A Atlantica não investe recursos próprios, apenas administra os empreendimentos. Mas os investidores são captados por ela. "Neste ano, o mercado de turismo ainda enfrentou algumas dificuldades, principalmente nas grandes capitais, onde existe muita oferta. Além disso, o mercado de investimento não está fácil. As pessoas seguem com cautela", explica. Segundo Holtze, a partir do próximo ano a Atlantica buscará implantar os hotéis em cidades da região Centro-Oeste, Sul e no interior de São Paulo. Apesar do ritmo mais lento, a empresa manteve a meta de construir 37 hotéis até 2006. O grupo espanhol Iberostar, que ainda não tem nenhum investimento no Brasil, está investindo R$ 250 milhões na construção de um resort de 1,4 mil quartos na Praia do Forte (BA). O projeto sofreu um atraso de cinco meses por problemas na concessão de licenças ambientais, mas deve ser concluído até 2009. "Não esperávamos tanta demora, mas temos de seguir as regras", disse Orlando Giglio, diretor comercial da Iberostar. A primeira fase deve ficar pronta em 2006, conforme programado, só com o atraso de cinco meses. O grupo também está construindo um navio-hotel de 75 cabines e 90 metros, que deve ficar pronto em fevereiro para circular pelos rios Amazonas e Negro. "O grupo está animado com os investimentos e já pensa em construir um segundo navio no país." Já o projeto de encomenda de 22 navios petroleiros da Transpetro foi adiado. A empresa de logística da Petrobras pretendia investir US$$ 1,1 bilhão. A demora deve-se ao fato de que o governo, a Transpetro e o BNDES querem viabilizar um modelo que possibilite a entrada de novos empresários no setor de construção naval. Outra dificuldade está em viabilizar um sistema de garantias que permita aos estaleiros tomar os financiamentos durante a fase de construção das embarcações.