Título: Incerteza sobre reeleição das Mesas estimula negociações para sucessão
Autor: Maria Lúcia Delgado e Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2004, Política, p. A7

Um certo silêncio constrangedor tomou conta da bancada do PT na Câmara diante da incerteza da votação da proposta de emenda constitucional (PEC) que dá direito aos presidentes da Casa, João Paulo Cunha, e do Senado, José Sarney, de se reelegerem. No Congresso, nem os ardorosos defensores da tese - e muito menos os combatentes da causa que consideram casuística - ousam sentenciar a ressurreição ou o sepultamento da PEC. "Não foi esgotada a possibilidade de se votar a emenda da reeleição, mas a probabilidade é bem menor atualmente", analisou um parlamentar da cúpula petista. Apesar de a fidelidade a João Paulo impedir qualquer pronunciamento oficial dos petistas contra a PEC, nos bastidores há muita movimentação. Crescem diariamente as negociações para a substituição de João Paulo na presidência da Câmara, mas tudo é feito com muito cuidado. Há dois nomes com maiores chances na disputa: do atual líder da bancada petista, Arlindo Chinaglia (SP), e do deputado Virgílio Guimarães (MG). A movimentação de Chinaglia é mais discreta e, para representantes de partidos do governo e da oposição, sua indicação teria muito mais aceitação que a do parlamentar mineiro. Chinaglia evita tocar no assunto. No entanto, líderes que presenciaram as últimas reuniões do colegiado da Câmara já suspeitam de um certo discurso de campanha do petista. No último jantar na casa de João Paulo para tratar do caos que se abateu sobre a base aliada, Chinaglia defendeu a votação da PEC paralela da Previdência (a continuidade da reforma previdenciária, que está encalhada na Câmara) e acenou com o apoio decisivo do PT para a apreciação da reforma política, em condições mais favoráveis aos partidos nanicos. O líder petista é considerado político habilidoso, com grande trânsito em alguns partidos como PL e PTB. O empecilho é que não pertence à corrente majoritária do PT. "Mas ele pode ser facilmente enquadrado", observou um parlamentar, ponderando que o exercício da liderança já aproximou bastante o deputado do Palácio do Planalto. Virgílio Guimarães tem a seu favor o fato de ser muito ligado a João Paulo, e de representar Minas Gerais num momento em que há forte pressão interna no PT para que o eixo São Paulo deixe de dar todas as cartas no jogo político da legenda. Além disso, o deputado foi importante aliado do governo ao relatar a reforma tributária. Outra vantagem é que ele teria boa interlocução com os 53 deputados que integram a bancada mineira. O problema é que muitos consideram que Virgílio não tem "estatura" para ocupar o cargo. No mandato anterior, era muito comum ver o mineiro de calças jeans e camisas desalinhadas circulando pelo Congresso. Hoje, já exibe ternos e gravatas elegantes, mas sua retórica permanece confusa e o jeito descontraído é o mesmo. Muitos deputados não consideram a transformação suficiente para a liturgia exigida pelo cargo. Virgílio Guimarães afirma que apóia integralmente a emenda da reeleição, e considera que há 55% de chance de a PEC ainda ser votada. Além de Chinaglia e Virgílio Guimarães, há ainda outros parlamentares envolvidos na sucessão de João Paulo. Também aparecem como possíveis candidatos Paulo Bernardo (PR), Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), Professor Luizinho (SP), Paulo Delgado (MG), José Eduardo Cardozo (SP) e Walter Pinheiro (BA). Entre tais candidaturas, a que teria força política é a de Paulo Bernardo, que preside a Comissão Mista de Orçamento e tem proximidade com o ministro Antonio Palocci (Fazenda). Professor Luizinho, pelo fato de ser líder do governo na Câmara, também poderia ter apoio dos governistas. Paulo Bernardo pode ser considerado uma terceira via do processo, embora ele próprio já tenha dito que não entrará em choque com Virgílio Guimarães, Arlindo Chinaglia e João Paulo.