Título: Filantropia pode ser alvo da fortuna de Jobs
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/10/2011, Empresas, p. B2

Agora, os holofotes estão voltados para a maneira como a mulher do cofundador da Apple , Laurene Powell Jobs, vai administrar a fortuna que provavelmente herdará. Alguns doadores importantes no Vale do Silício dizem que não sabem se o casal já fez grandes doações secretas. Laurene Jobs, de 47 anos, negou, por meio de uma porta-voz, os pedidos para dar entrevista.

Mas, as atividades de Laurene revelam uma família envolvida profundamente no apoio à reforma da educação, direitos da mulher e a outras causas filantrópicas, bem como a pontos de vista e candidatos do Partido Democrata.

"Ela é muito da escola de que "se espera muito de quem ganhou muito"", diz Carlos Watson, que fundou com ela um grupo de defesa da reforma educacional chamado College Track, em 1997. "O objetivo dela é descobrir meios de aumentar o acesso às oportunidades."

Laurene Jobs é conhecida na área de política educacional, dando consultoria a políticos e ONGs, diz Ted Mitchell, diretor-presidente do NewSchools Venture Fund, uma ONG cujo conselho Laurene passou a integrar cinco anos atrás. A família Jobs já doou milhões de dólares para o grupo, diz ele, e o trabalho dela "funciona ainda mais porque ela o faz discretamente, de forma constante, com uma integridade incrível e muita visão."

A viúva de Steve Jobs trabalhou na Merrill Lynch Asset Management e no Goldman Sachs , no fim dos anos 80. Ela conheceu o futuro marido quando estudava para um MBA na Universidade Stanford. Eles se casaram em 1991 e têm três filhos. Ela fundou uma empresa de alimentos naturais chamada Terravera.

Laurene pratica filantropia pelo menos desde meados dos anos 90, quando foi mentora de estudantes do ensino médio de East Palo Alto, na Califórnia. Em 1997, ela colaborou para a fundação da College Track, que ajuda estudantes de baixa renda a entrar na faculdade com programas acadêmicos e extracurriculares intensivos.

Financiar e gerenciar a College Track envolveu doações "significativas" da família Jobs, segundo uma pessoa próxima à ONG.

"Isso era importante demais para eu só assinar o cheque - vou construir com minhas próprias mãos uma infraestrutura que ajude estudantes a entrar na faculdade", afirma Watson, sobre o que seria o pensamento de Laurene em relação à College Track. O programa já treinou mais de 1.000 estudantes, diz ele, dos quais 90% conseguiram entrar na faculdade.

Laurene muitas vezes surpreende os estudantes da ONG, principalmente negros e latinos. "Eles pensam: "Você não conhece minha história"", diz Watson. Mas por meio de conversas pessoais, às vezes em dezenas de ocasiões na casa do estudante ou na dela -, Laurene mostrou que podia se conectar com os estudantes, diz ele.

Wendy Kopp, fundadora e diretora-presidente da ONG Teach For America, diz que lembra de Laurene Jobs destacando-se durante uma visita a uma escola californiana três anos atrás. "É muito raro encontrar alguém que não seja um de nossos funcionários mais graduados e que possa entrar numa sala de aula e enxergar o que ela consegue. O nível das perguntas dela revela um compromisso genuíno com a ideia de que toda criança tem direito a uma educação excelente."

Laurene ainda é presidente do conselho da College Track e também integra os conselhos da Teach For America, do NewSchools Venture Fund, da Stand for Children, da New America Foundation e da Conservation International. Ela também é do Conselho das Relações Exteriores, importante centro de pesquisas americano.

Mais recentemente, Laurene criou uma organização filantrópica mais ampla chamada Emerson Collective. Segundo a biografia oficial da viúva de Steve Jobs, a entidade "colabora com uma variedade de empreendedores para apoiar reformas sociais internacionais e domésticas".

Uma pessoa que conhece a Emerson disse que o nome se baseia no ensaio "Autossuficiência", de Ralph Waldo Emerson, um dos criadores do movimento transcendentalista nos EUA, no século 19, e que a ONG acredita em "fortalecer o indivíduo com as ferramentas para uma vida produtiva".

Laurene Jobs também participou de eventos da Clinton Global Initiative nos últimos anos. Ela realizou uma entrevista no palco com o ator Ben Affleck na reunião do Fórum Mundial de Filantropia, em abril, sobre suas doações à Iniciativa do Leste do Congo. Os dois viajaram juntos ao Congo ano passado e ela também investiu na organização.

Documentos de arquivos públicos mostram que Laurene doou para causas políticas dos democratas, o que inclui US$ 200 mil destinados para um grupo chamado Californianos em Defesa da Energia Limpa e dos Empregos, que fez campanha contra um referendo que adiaria a entrada em vigor de uma lei estadual para regulamentar as emissões de gases do efeito estufa.

O trabalho filantrópico de Laurene Jobs algumas vezes se combinou ao da Apple. No começo do ano, a Apple criou um projeto para receber modelos da primeira geração do iPad, de compradores do iPad 2, e doá-los a integrantes da ONG Teach for America. A Apple deu espaço à campanha em suas vitrines e conseguiu fornecer iPads para mais de 9 mil professores. (Colaborou Rob Guth.)