Título: Cinemas reconquistam o público e investem na inauguração de salas
Autor: Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2004, Empresas, p. B-2

Depois de passar por uma longa temporada de investimentos escassos, o mercado exibidor de cinema deve ganhar pelo menos 200 novas salas este ano, voltando a patamares da década de 80. Em 2003, os exibidores nacionais e estrangeiros inauguraram 1.817 salas de cinema no país. A previsão para este ano é de um crescimento de 10%, o que representaria um aporte de capital da ordem de R$ 160 milhões. Essa reconquista do público, garantem empresários do setor, está diretamente ligada a uma demanda reprimida que existia até então no mercado e a mudança no padrão de serviço oferecido, principalmente com a chegada das empresas americanas no país, como o Cinemark e o United Cinemas International do Brasil (UCI), que trouxeram projetores de ponta e som digital às salas. "O mercado cinematográfico foi um dos únicos do país que conseguiu registrar resultados acima da inflação, apesar da crise vivida pelo Brasil nos últimos anos. Existia uma demanda reprimida. O público tem reagido à oferta de salas", explica o diretor de Relações Institucionais do grupo Severiano Ribeiro, Luiz Gonzaga de Luca. A empresa, segunda maior do mercado em faturamento de bilheteria e em número de espectadores, vai investir R$ 52 milhões na abertura de oito complexos de cinema até 2006. Consolidado no Nordeste e no Rio de Janeiro, o grupo estreou há dois anos em São Paulo e agora ruma para o interior do Estado, com a inauguração de salas em Osasco. O aquecimento do mercado também tem levado exibidores, que até anos atrás não possuíam um único complexo cinematográfico no país, a apostarem as fichas no Brasil. É o caso do grupo espanhol Cinebox, que em dois anos inaugurou 48 salas de exibição em solo brasileiro. A rede traça um plano ousado de expansão para concorrer com gigantes internacionais do setor como o Cinemark e o UCI. Com investimentos de R$ 36 milhões, a meta do grupo é fechar o próximo ano com 78 salas, no Brasil, o que lhe renderia o quinto lugar no ranking dos exibidores nacionais. Hoje, o grupo está na 15% posição. "Só temos motivos para comemorar. Acreditamos no país e estamos investindo pesado por aqui. O resultado está aí", comemora o diretor-geral da rede no Brasil, Miguel Fontanet. Para garantir a fidelidade do espectador e ganhar mercado, o grupo tem apostado em diferenciais, que vão desde a poltrona, larga igual a primeira classe dos aviões, a embalagem da pipoca. "Nosso objetivo é oferecer o melhor atendimento e uma estrutura visual de nossos complexos diferenciada. São os pequenos detalhes que fazem as diferenças", afirmou Fontanet. As embalagens de pipoca, por exemplo, serão de papel cartão, para evitar ruídos durante as exibições. O material chega a custar até duas vezes mais do que o utilizado hoje nos outros cinemas, mas Fontanet garante que isso não será sinônimo de ingressos mais caros. Pelo contrário. Os preços praticados pelo Cinebox são em média 25% mais baixos do que os da concorrência. A receita para o êxito, segundo ele, está na abertura de salas em mercados até então pouco explorados por outros exibidores, como Manaus e João Pessoa, sem deixar de lado âncoras como Rio e São Paulo. O grupo já tem salas em Campinas e São Gonçalo e prepara-se para inaugurar dez salas na capital paulista e seis no Rio de Janeiro. Os investimentos serão feitos em sua maioria com capital próprio e ainda podem contar com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Com o objetivo de impulsionar o mercado nacional, o banco lançou este mês uma linha inédita para a construção, ampliação e reforma de salas de cinema. Com juros que variam de 1% a 4% ao ano mais TJLP (9,75% ao ano), o banco financiará até 90% do valor total do empreendimento. O prazo de carência será de 12 meses e o volume mínimo para concessão dos empréstimos é de R$ 1 milhão. "Cinema passou a ser prioridade do BNDES. A cultura é um vetor importante para o desenvolvimento do país", diz o assessor da presidência do banco, Márcio Nobre Migon. Segundo ele, ainda existe espaço para a construção de mais de mil salas no país, por isso estamos investimento no segmento. O grupo Estação, que conta com 17 salas, sendo 15 no Rio e duas em São Paulo, foi um dos primeiros a procurar o banco e já está negociando empréstimo para ampliar para 40 o número de salas de exibição, contou Adriana Rattes, uma das diretoras do grupo. O projeto envolve investimentos totais de R$ 60 milhões. "É impossível crescer com rapidez com recursos próprios", disse Adriana.