Título: Emergentes vão pedir mais poder no FMI
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Fonte: Valor Econômico, 11/10/2011, Finanças, p. C10

O Brasil e outros emergentes vão querer uma nova redistribuição do poder decisório no Fundo Monetário Internacional (FMI) em troca de aumento de recursos para o fundo que está sendo pedido por países europeus.

Os presidentes da União Europeia, Herman Van Rompuy, e da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, enviaram ontem uma carta aos 27 países do bloco europeu sugerindo que um dos temas que devem ser discutidos prioritariamente na cúpula do G-20, em Cannes, no começo de novembro, é sobre mais recursos para o FMI a fim de socorrer países em dificuldades.

A diretora-geral do fundo, Christine Lagarde, já visou que a capacidade de empréstimos da entidade, de cerca de US$ 400 bilhões, pode não ser suficiente para tratar da crise da dívida soberana na zona do euro.

O mais provável, porém, é que a cúpula do G-20 engate apenas uma nova linha de crédito de curto prazo do fundo para países se prevenirem contra a crise. No entanto, países emergentes dizem que não há sequer um acordo básico pelo momento de como será esse financiamento, e um consenso continua a ser discutido.

Sobre o aumento dos volumes para o FMI, a visão entre emergentes é de que a prioridade imediata é completar o aumento de cotas aprovado em 2010, que dobrou os recursos do fundo para US$ 750 bilhões, mas que os europeus, principalmente, arrastam os pés para aprovar em seus parlamentos.

Pelo ritmo atual, o aumento das cotas de 2010 não será aprovado antes de outubro de 2014 e somente lá é que mais US$ 375 bilhões vão reforçar o caixa da entidade. Assim, falar agora em aumentar os recursos do fundo, para vários emergentes deve vir condicionado a mais repartição de poder para esses países. Isso inclui inclusive um compromisso para se quebrar de vez o controle de europeus e americanos no comando do FMI e do Banco Mundial, a fim de que o próximo diretor-geral seja de um país em desenvolvimento.

"Os europeus querem mais dinheiro, os emergentes querem mais poder", resume um alto funcionário europeu sobre um tema que vai alimentar discussões na cúpula de Cannes.

Pela reforma de 2010, o Brasil foi o segundo país mais beneficiado em aumento de cota e de voto, depois da China. O país ficou entre as dez maiores nações em cotas e poder de voto. E as cadeiras dos países que formam o chamado bloco do Bric - Brasil, Rússia, Índia e China - juntas representarão 15,47%, passando a deter direito de veto nas principais decisões (que exigem 85% dos votos), se continuarem atuando de forma coordenada, numa reviravolta histórica. Mas isso tudo só virá quando todos os países membros do FMI aprovarem a reforma.

Ocorre que, mesmo quando a reforma for implementada, a influência dos europeus desenvolvidos, com 29%, e dos americanos, com 17%, continuará enorme. Se os europeus querem agora mais dinheiro para o FMI, os europeus sabem que vão precisar abrir mão de fatias de poder na entidade.