Título: Moatize marca internacionalização da Vale
Autor: Vera Saavedra Durão e Ivo Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2004, Empresas, p. B7

A exploração da grande reserva de carvão das jazidas de Moatize, em Moçambique, com investimento total de US$ 1 bilhão, é o primeiro grande negócio internacional da Cia. Vale do Rio Doce em sua principal área de atuação, que é a mineração. Até agora, a empresa tem no exterior ativos de relevância limitada, como usinas de ferro-ligas na França e Noruega, 50% de uma pelotizadora de ferro no Bahrein e 50% da laminadora de aço CSI, nos EUA. Moatize é uma das maiores jazidas de carvão do mundo, com depósito avaliado em 2,4 bilhões de toneladas, conforme comunicado da Vale divulgado sexta-feira. A expectativa é que o novo negócio gere receita adicional à companhia de pelo menos US$ 800 milhões. A brasileira venceu uma concorrência internacional, que na primeira fase participaram dez interessados. O lance da Vale foi de US$ 122, 8 milhões, em consórcio com a americana American Metals and Coal International (AMCI), no qual a brasileira detém 95% de participação. Com isso, a empresa se habilita ao selo de multinacional brasileira. Ganha peso na competição mundial com suas rivais Rio Tinto e BHP Billiton, que disputaram com ela este ativo na reta final. O investimento de US$ 1 bilhão inclui o pagamento da concessão, desenvolvimento da mina e construção de terminal para carregamento de navios nos portos de Beira e Nacala, segundo a Vale. As minas são ligadas ao porto de Beira por uma ferrovia de 600 quilômetros, operada por um consórcio de empresas da Índia. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) garantiu financiamento de à Vale de US$ 125 milhões para o projeto, adiantou ao Valor o vice-presidente do banco, Darc Costa. Costa considerou o sucesso da Vale na concorrência como "uma vitória enorme". A seu ver, vai possibilitar ao Brasil retomar sua presença geo-estratégica na África Austral e capacitar a Vale como multinacional. Além disso, garante carvão às siderúrgicas brasileiras. "O Brasil é dependente da importação esse insumo", lembrou. Um estudo de pré-viabilidade do projeto de Moatize já foi feito pela Vale, que inicia em janeiro de 2005 o estudo de viabilidade econômica, que prevê ficar pronto em 24 meses. A expectativa é que o projeto entre em operação por volta de 2008. Estudos divulgados na África do Sul indicam que a produção prevista da mina seria de 10 milhões de toneladas ao ano - 6 milhões de carvão metalúrgico e 4 milhões de carvão energético. Segundo a Vale, o mercado natural para esse carvão são as usinas de aço brasileiras, em particular os novos projetos de expansão previstos para o setor. É o caso do pólo do Maranhão. Atualmente, o Brasil já importa mais de 12 milhões de toneladas de carvão metalúrgico por ano para suprir sua atual produção de aço. O tipo energético deverá ser consumido na própria região da África Austral, para geração de energia térmica. O analista do Banco Brascan, Luiz Caetano, avalia a entrada da Vale no segmento de carvão como bastante positiva, pois amplia seu portfólio de negócios e eleva sua receita. Moatize é o terceiro projeto de carvão anunciado pela mineradora este ano e o mais importante. Trata-se de região carbonífera não explorada no mundo, com depósito de classe mundial, destaca. Em julho, a Vale anunciou duas joint-ventures na China no negócio de carvão e coque. Primeiro, com a Shandong Yankuang International Coking e com a Itochu Corporation, uma das principais tradings japonesas, na província de Shandong. Vai participar de um negócio de 2 milhões de toneladas de coque e 200 mil toneladas de metanol como subproduto. O analista prevê que o início dessa operação ocorra em 2006 com a Vale investindo cerca de US$ 27 milhões e assegurando 25% no capital. O investimento total é estimado em US$ 275 milhões. O segundo empreendimento, também a Yankuang, visa desenvolver a mina de carvão de Zhaolou, produzindo 3 milhões de toneladas de carvão coqueificável., com participação de 25%. Antes de Moatize, a Vale tentou adquirir no exterior Noranda e a mina de cobre de Las Bambas.