Título: Edemar já fala em vender Banco Santos
Autor: Josette Goulart e Monica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 16/11/2004, Finanças, p. C1

O controlador e presidente do conselho de administração do Banco Santos, Edemar Cid Ferreira, e seus advogados se reuniram, ontem, em São Paulo, para buscar alternativas à intervenção, decretada na noite de sexta-feira pelo Banco Central (BC). O advogado do banco, Sérgio Bermudes, disse que a reunião concluiu pela necessidade de se buscar recursos de parceiros ou vender a instituição para algum banco estrangeiro. " O Edemar está disposto a encontrar a melhor solução: com ele, se possível, e sem ele, se necessário " , disse Bermudes. O advogado Ricardo Tepedino, que comanda o escritório de Bermudes em São Paulo, reafirmou que a venda é a melhor saída para o banco e disse que o rombo pode ser coberto com uma injeção de capital de R$ 180 milhões. Tepedino não endossou o cálculo apresentado pelo Banco Central, que considera necessária uma capitalização de R$ 700 milhões para o Santos voltar a abrir as portas. O numero do BC, disse, é um " critério de futurologia de quem vai ou não pagar o crédito que tomou " . Tepedino disse que o Santos teve só um problema de liquidez, tanto que o BC apenas decretou intervenção. A falta de liquidez, na sua avaliação, foi ocasionada por uma onda de saques, nos últimos quatro meses, no total de R$ 700 milhões, em função de boatos sobre a situação do banco e por uma fiscalização ostensiva do Banco Central, segundo Tepedino. " É um valor substancial, levando-se em consideração que o patrimônio do banco é de R$ 600 milhões. E este foi um problema que se agravou muito na última semana " . O interventor do Banco Central no Banco Santos, Vânio Pickler César de Aguiar, assumiu o posto, ontem, com a missão de encontrar uma solução de mercado para para o passivo da instituição junto aos depositantes. A idéia é negociar com esses credores um deságio sobre o valor dos depósitos, que somam cerca de R$ 1,8 bilhão. Em princípio, tudo que excede a R$ 20 mil por cliente, valor segurado pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), está preso por, no mínimo, seis meses, prazo inicial da intervenção decretada na noite de sexta-feira. Caso a intervenção seja transformada em liquidação extrajudicial, porém, essa espera pode se arrastar por tempo indeterminado. Uma solução negociada logo nessa primeira fase, portanto, permitiria uma liberação mais rápida dos recursos. A negociação com os credores não impediria, pelos planos traçados, uma possível transferência das atividades bancárias do Santos para outra instituição financeira. Até ajudaria. " Eles vão ter que abrir mão de um alguma coisa, se quiserem receber " , disse ao Valor uma fonte do BC, referindo-se aos grandes clientes da instituição. Na sua avaliação, o perfil da clientela do Banco Santos, composta por 700 investidores aproximadamente, torna mais fácil uma solução de mercado. A maior parte é investidor institucional, fundos de pensão, o que " facilita o diálogo " , afirma. Numa intervenção ou liquidação, os passivos passam a ser corrigidos apenas pela Taxa Referencial (TR). Dependendo do tamanho do desconto, portanto, um deságio pode representar para o credor uma perda menor. No balancete de agosto, a instituição tinha uma carteira de crédito de R$ 3 bilhões. A falta de provisões adequadas foi um dos motivos que levou o BC a intervir no banco, além da crise de liquidez. Os fatos que levaram o banco a ficar na atual situação não são objeto da equipe de intervenção. As evidências de atos irregulares de gestão serão investigadas por uma comissão de inquérito, ainda a ser nomeada, que fará um trabalho paralelo dentro da instituição.