Título: Refresco para José Serra
Autor: Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 16/09/2010, Política, p. 7

No Ceará, presidenciável tucano evita críticas a adversários e ao governo federal, mas senador do PSDB compara Lula a ex-ditadores

O candidato à Presidência da República José Serra (PSDB) ironizou ontem a nota divulgada pela ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, em que é chamado de aético e derrotado. Durante visita a Juazeiro do Norte (CE) para a Procissão de Nossa Senhora das Dores, o tucano criticou o teor do texto. Eles estão de salto alto, sentados na cadeira, afirmou Serra. Acompanhado pelos candidatos ao Senado Tasso Jereissati (PSDB-CE), e ao governo Marcelo Cals (PSDB-CE), o presidenciável voltou a prometer um salário mínimo de R$ 600 para 2011, caso seja eleito.

Enquanto Serra evitou comentar as denúncias contra Erenice e deixou de atacar o governo federal, Jereissati comparou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aos ex-ditadores Adolf Hitler (Alemanha), Benito Mussolini (Itália) e Alfredo Stroessner (Paraguai). Está sendo feita uma lavagem cerebral. Não vou negar que Lula é popular, mas Hitler era popular, Mussolini era popular, Stroessner era popular, afirmou o senador. Em relação à declaração de Lula sobre extirpar o DEM da política nacional, Jereissati disse que o presidente flertava com regimes autoritários, como o de Hugo Chávez, na Venezuela. O presidente da República perdeu o pudor do seu cargo. Ele não pode participar dessas coisas mesquinhas e pequenas, criticou.

O tom das críticas ao governo federal e à presidenciável Dilma Rousseff (PT) no horário eleitoral tucano deve se manter elevado nas próximas semanas, mas sem Serra na linha de frente dos ataques. O marketing tucano tem colhido depoimento de personagens célebres de escândalos recentes da política brasileira. Depois de citar o caseiro Francenildo Costa, que denunciou a ligação do ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci com lobistas, o programa tucano vai explorar a imagem do motorista Eriberto França. O responsável por ligar o ex-presidente Fernando Collor ao esquema de Paulo César Farias gravou um depoimento para o PSDB no qual critica a proximidade de Lula com Collor.

Em relação ao aumento do salário mínimo, Serra garantiu que tem condições de viabilizar a promessa. Eu fiz todo um estudo econômico a esse respeito e tenho certeza que dá para implantar um salário mínimo desse valor, disse.

Irritação

Antes de ir ao Ceará, Serra deu entrevista ao programa Jogo de poder, da CNT. Durante a entrevista com os jornalistas Alon Feuerwerker, do Correio, e Márcia Peltier, Serra se irritou ao ser questionado sobre o episódio da quebra dos sigilos fiscais de parentes e de pessoas ligadas ao PSDB e ameaçou deixar o estúdio.

O candidato chegou a se levantar da cadeira, tentando arrumar o fio do microfone, e anunciou sua saída. Eu não vou dar essa entrevista, você me desculpa, afirmou Serra. Somente depois de as câmeras terem sido desligadas e de ter conversado reservadamente com Peltier e Feuerwerker, o tucano aceitou retomar a conversa. Ainda assim, somente para comentar os temas economia, saúde e saneamento básico.

Filha e genro de Serra depõem na PF

A filha e o genro de José Serra (PSDB) prestaram depoimento à Polícia Federal ontem, no inquérito que apura a quebra de sigilo fiscal por funcionários da Receita. Verônica Serra e Alexandre Bourgeois tiveram os dados vazados por meios de uma procuração falsa, assinada pelo técnico em contabilidade Antônio Carlos Atella Ferreira. De acordo com o advogado do casal, Sérgio Rosenthal, a família deve iniciar uma investigação paralela sobre a quebra dos sigilos. Ele também informou que a Justiça autorizou a quebra do sigilo telefônico de Ferreira.

"Está sendo feita uma lavagem cerebral. Não vou negar que Lula é popular, mas Hitler era popular, Mussolini era popular, Stroessner era popular Tasso Jereissati, senador do PSDB-CE