Título: Há falta de grandes projetos produtivos
Autor: Vera Saavedra Durão e Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2004, Brasil, p. A3

Se os números do BNDES projetados para o futuro indicam boas perspectivas, os dados do passado recente e do presente revelam escassez de grandes projetos industriais já na fase ou próximo da etapa de desembolso de recursos. Um levantamento feito pelo banco a pedido do Valor, com números relativos a financiamentos de grandes projetos desde 1999, mostrou que de janeiro a setembro deste ano foram aprovados financiamentos para apenas 36 projetos de valor unitário superior a R$ 100 milhões. Os empréstimos do BNDES para esses 36 projetos somam R$ 8,63 bilhões, menos da metade dos R$ 17,97 bilhões aprovados em 2003 - um ano reconhecidamente ruim - para um total de 59 projetos com investimento superior a R$ 100 milhões. "Parece que os empresários não estavam confiando muito na recuperação, mas isto já está mudando", disse Maurício Piccinini, optando por trabalhar com o futuro. Piccinini avalia que os investimentos das grandes empresas com recursos próprios são mais voltados para o aumento da produção via modernização e ampliação, sem necessidade de construir novas plantas. "Tanto que as operações indiretas (empréstimos do BNDES por meio de um banco intermediário) com grandes empresas estão crescendo muito. Ate setembro tivemos 5.615 operações com estas companhias. Prova de que elas estão investindo, mas de forma complementar." Quando se examinam as aprovações de grandes projetos neste ano por setor, os dados mostram que 63% do valor dos financiamentos aprovados (R$ 5,43 bilhões) foram para três setores: telecomunicações (R$ 1,93 bilhão); energia elétrica e gás (R$ 1,96 bilhão) e outros equipamentos de transporte, basicamente, Embraer (R$ 1,54 bilhão). Os dois primeiros são serviços e o empréstimo para a Embraer é financiamento a exportações. Os números mostram que em 2003 não foi muito diferente. Dos quase R$ 18 bilhões aprovados, R$ 4,48 bilhões foram para a Embraer (um projeto) e R$ 6,42 bilhões para 23 projetos de energia elétrica e gás. O único setor industrial que recebeu financiamentos acima de R$ 1 bilhão para expansão foi o de papel e celulose, puxado pelo projeto da Veracel (Stora Enso, sueco-filandesa, com Aracruz) na Bahia. Os projetos acima de R$ 100 milhões receberam do BNDES R$ 5,27 bilhões em 1999; R$ 19,75 bilhões em 2000; R$ 13,22 bilhões em 2001 e R$ 9,66 bilhões em 2002. Em todos esses anos energia elétrica, Embraer e telecomunicações estiveram com as maiores fatias, com destaques isolados para um ou outro setor industrial em cada ano, como veículos automotores em 1999 (R$ 1,7 bilhão) e papel e celulose e químicos em 2001. Piccinini alerta que o conceito de grande projeto é variável. Em alguns setores, como o de produtos alimentícios, um investimento de R$ 40 milhões já pode ser considerado grande. (VSD e CS)