Título: BNDES deve ter desembolso R$ 10 bi abaixo do previsto
Autor: Vera Saavedra Durão e Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2004, Brasil, p. A3

Um levantamento feito pelos técnicos da área de planejamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) constatou que, entre projetos já contratados ou nas suas diversas fases de tramitação (consulta, enquadramento, aprovação e desembolso), o banco já tem empenhados para 2005 desembolsos no valor total de R$ 56 bilhões, o que representaria um crescimento de 18,4% sobre o total de R$ 47,3 bilhões previsto para ser liberado neste ano, mas que não deverá ser alcançado. A expectativa de analistas do próprio banco é que sobrem cerca de R$ 10 bilhões, indicando um desembolso próximo a R$ 38 bilhões em 2004. O presidente do banco estatal, Carlos Lessa, ainda não jogou a toalha e afirmou, na semana passada, que o orçamento de 2004 será plenamente executado. Mas não é essa a impressão geral dentro da instituição de crédito. Até setembro foram liberados R$ 26 bilhões, o que equivale a apenas 55% do total previsto para o ano. Algumas medidas para aquecer a demanda por crédito da instituição vêm sendo tomadas desde o início de outubro, como a dispensa da correção cambial no custo financeiro das grandes e médias empresas e a ampliação da linha de crédito para capital de giro, de R$ 2,5 bilhões para R$ 4 bilhões até dezembro, mas seus efeitos são considerados de curto alcance. Se o orçamento de 2004 pode ficar abaixo do estimado, em compensação, o levantamento feito na carteira de pedidos justificou a aprovação pelo conselho de administração do banco estatal de um orçamento recorde de R$ 60,8 bilhões para 2005. Este número é 28,5% maior que o previsto para este ano, que também era recorde.

O superintendente da área de planejamento, Maurício Piccinini, informou que de um total de R$ 65 bilhões em consultas (pedidos formais) que chegaram ao BNDES de janeiro a setembro deste ano, R$ 29,55 bilhões são da indústria de transformação e R$ 26,5 bilhões para a infra-estrutura, setores que preocupam por serem gargalos produtivos. O valor de consultas, em apenas nove meses, supera em 48% o total de 2003. Segundo Piccinini, o levantamento de consultas permite concluir que, embora os projetos industriais de grande porte aprovados até agora sejam motivo de preocupação quanto à capacidade do país continuar crescendo, já há uma movimentação dos empresários para superar os gargalos que podem deter o ritmo da atividade. "Estamos entrando em um ciclo de investimentos, disto eu não tenho dúvidas", afirmou o economista Flávio Castelo Branco, coordenador de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para ele, "é preciso cuidado" ao examinar os números do BNDES relativos a projetos de grande porte. "Embora o BNDES seja a principal fonte de financiamento, as empresas usam capital próprio", ponderou. Entre os valores computados no levantamento está incluída uma parcela menor, de cerca de R$ 4,5 bilhões (menos de 10% do total), que são empréstimos em perspectiva, ou seja, são negociações já entabuladas, mas que ainda não se materializaram em projetos formais, como algumas iniciativas no setor siderúrgico. Foto: Nelson Perez/Valor

Piccinini, do BNDES: há movimentação dos empresários para superar gargalos

Do total de pedidos em carteira, mais de R$ 50 bilhões já foram enquadrados, ou seja, dados como aptos a serem apoiados pelo banco. Até setembro o total era de R$ 49,5 bilhões, sendo R$ 25,13 bilhões para a indústria, R$ 16,56 bilhões para a infra-estrutura, R$ 5,55 bilhões para a agropecuária e R$ 2,28 bilhões para a indústria extrativa mineral. No total de projeto enquadrados até setembro não está incluído o projeto da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) para a construção de uma usina de placas de aço em Itaguaí (RJ). O projeto de R$ 7 bilhões foi enquadrado em outubro. A companhia já teve outro projeto enquadrado pelo banco, no valor total R$ 2,3 bilhões, referente a ampliação da mina de Casa de Pedra de minério de ferro, construção de uma pelotizadora e melhoria de porto.