Título: Violência e fuga de empresas crescem, apesar da alta na produção de petróleo
Autor: Chico Santos e Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2004, Brasil, p. A5

A violência tem sido fator decisivo no processo de esvaziamento econômico do Estado do Rio de Janeiro, especialmente da capital. De acordo com cálculo do economista Paulo Rabello de Castro, do Instituto Atlântico, no período de 1980 a 2003, o Produto Interno Bruto (PIB) do Rio evoluiu a uma proporção de 70% do PIB brasileiro. Com base em cálculo da elasticidade da variação do PIB do Estado ao incremento do número de homicídios por ano, ele conclui que a violência responde por uma perda de 10% na produção fluminense no período. O incremento da produção de petróleo na bacia de Campos (norte do Estado), especialmente após 1994, melhorou, segundo Castro, os indicadores econômicos do Rio, mas em praticamente nada contribuiu para a reversão do quadro na região metropolitana da capital. O economista calcula que a região metropolitana do Rio vem crescendo a uma taxa de apenas 0,5% ao ano desde meados da década de 90. Segundo levantamento do economista Mauro Osório da Silva, quando se analisa apenas a indústria de transformação, isolando o efeito da extração de petróleo sobre a produção industrial como um todo, a manufatura de produtos no Rio cresceu 5% nos últimos quatro anos, contra um ritmo de 15% da indústria de transformação do país. Essa situação, de acordo com o analista, coexiste com a constatação de que o Rio tem a maior taxa de morte violenta para jovens de 15 a 24 anos entre todos os Estados da federação. A região da capital formada pelos bairros de Ramos, Bonsucesso e Inhaúma, até os anos 80 um dos pólos industriais mais dinâmicos da capital, é um espelho da decadência constatada pelos dois economistas. Núcleo do conjunto de favelas denominado Complexo do Alemão, o segundo maior da cidade, a área convive cada vez mais com esqueletos do que antes foram indústrias tradicionais. Antigas fábricas como as da Coca-Cola, Poesi (moda íntima) e Oneon (metalurgia) já não existem mais na região. As que sobrevivem, arcam com custos crescentes com equipamentos e pessoal de segurança. Nos próximos meses, o pólo industrial deverá perder uma tradicional fábrica de embalagens, responsável por cerca de cem empregos e uma produção de 500 toneladas por mês. A direção da empresa decidiu procurar uma localização no interior do Estado após sofrer três assaltos no intervalo de 45 dias. Preocupados com possíveis represálias, os dirigentes preferem não se identificar. Um deles disse que é comum, ao chegar ao trabalho, encontrar no chão balas de grosso calibre que durante a noite se chocaram contra os muros da fábrica. "Antes havia respeito pelas empresas que geravam emprego para as comunidades. Com o crescimento e a fragmentação crescente do tráfico, esse respeito praticamente deixou de existir". Uma grande indústria do setor de lubrificantes que resiste na região monitora com câmeras de vídeo toda a área em volta das suas instalações, na tentativa de proteger a chegada e a saída de seus funcionários, clientes e fornecedores. "Se as fábricas saem daqui, quem perde é a comunidade, que perde cada vez mais alternativas de emprego para seus moradores", disse o dirigente de uma das indústrias da área que também pediu para não ser identificado. (CS)