Título: Relação com a máfia
Autor: Luiz, Edson
Fonte: Correio Braziliense, 16/09/2010, Política, p. 11

Relatório da Polícia Federal confirma ligação de governador do Amapá preso por desvio de verbas públicas com sanguessugas

As análises realizadas pela Polícia Federal (PF) nos documentos apreendidos durante a Operação Mãos Limpas, desencadeada na semana passada, revelam que o governador do Amapá, Pedro Paulo Dias (PP), tinha ligações com a máfia dos sanguessugas(1). Dias teria recebido um ônibus de Luiz Antônio Vedoin, um dos donos das empresas envolvidas no escândalo de compra fraudulenta de ambulâncias e equipamentos hospitalares descoberto há quatro anos. Dias, o ex-governador Waldez Góes e outras quatro pessoas continuam detidas em Brasília, por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que prorrogou a prisão temporária desses acusados e libertou, no Amapá, outras 12 pessoas envolvidas no desvio de verbas públicas no estado nortista.

Segundo relatório da Polícia Federal obtido pelo Correio, o ônibus foi doado a uma clínica de Pedro Paulo Dias e de seu irmão Benedito Dias ex-deputado federal pelo PP pela empresa Klass Comércio e Representação, do Grupo Vedoin. O veículo, que, na teoria, seria uma ambulância, foi localizado pela PF em novembro do ano passado, em uma fazenda no interior do Pará. Na ocasião, a pessoa que tinha a posse do ônibus afirmou que o havia guardado a pedido de um amigo do Amapá, que seria assessor político.

No relatório, a Polícia Federal anexou depoimentos de Luiz Antônio Vedoin durante a Operação Sanguessuga, confirmando que ele vendia veículos com equipamentos médicos também para municípios do Amapá. O autor das emendas no Congresso para a liberação de recursos para o estado com essa finalidade era o então deputado Benedito Dias. Em 2003, por exemplo, ele conseguiu R$ 500 mil em emendas. Ainda segundo o documento da PF, quando o escândalo dos sanguessugas veio à tona, Benedito e Pedro Paulo decidiram esconder o ônibus no Pará. Também participava desse esquema o empresário Erick Janson Sobrinho de Lucena, um dos presos na Operação Mãos Limpas.

Denúncia

O caso foi confirmado em novembro do ano passado, quando o deputado Moisés de Souza (PSC-AP) denunciou a fraude na Polícia Federal. Na ocasião, o parlamentar apresentou farta documentação probatória do esquema envolvendo a compra do veículo, adquirido para a empresa Klass Comércio e Representação Ltda. (empresa do Grupo Trevisan/Vedoin) pela Clínica Santa Rita, a qual possuía como sócios, quando da aquisição, o atual governador Pedro Paulo Dias e Benedito Dias diz o relatório da PF.

Na noite de terça-feira, o ministro João Otávio de Noronha, relator do inquérito no STJ, acatou o pedido da Polícia Federal e do Ministério Público para manter a prisão do governador do Amapá, Pedro Paulo Dias. A justificativa foi a de que a prorrogação da prisão temporária seria necessária para o bom andamento das investigações. Além dele e do ex-governador e candidato ao Senado Waldez Góes, continuam detidos o presidente do Tribunal de Contas do Estado, José Júlio de Miranda Coelho; o ex-secretário de Educação José Adauto Santos Bitencourt; o secretário estadual de Segurança, Aldo Alves Ferreira; e o empresário Alexandre Gomes de Albuquerque.

1 - Emendas

A máfia dos sanguessugas foi desbaratada em 2006, quando se descobriu um esquema que destinava emendas parlamentares para a compra fraudulenta de ambulância e equipamentos hospitalares envolvendo empresas do Grupo Vedoin, que pagava propina aos congressistas. O prejuízo aos cofres públicos, segundo levantamento final da Controladoria-Geral da União (CGU), chegou a mais de R$ 15,5 milhões. Cerca de 600 municípios estavam envolvidos no escândalo.

O número

R$ 500 mil

Valor das emendas parlamentares aprovadas pelo ex-deputado Benedito Dias para o Amapá

O número

420.799

Número de eleitores no Amapá, segundo o TSE