Título: Semelhança entre partidos é tendência mundial, avalia Tasso
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2004, Política, p. A8

Ao analisar as conseqüências do resultado eleitoral, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que deve assumir posição de destaque em seu partido na condução do processo da sucessão presidencial, admite que tucanos e petistas apresentam cada vez mais semelhanças. "O PT moderado está muito parecido com o PSDB mesmo. A tendência mundial é essa. Veja os democratas e republicanos nos Estados Unidos. E qual é a diferença entre os partidos de esquerda na França?", disse ao Valor. Essa proximidade entre os partidos mais consolidados politicamente hoje no Brasil, segundo ele, reflete o quadro econômico mundial. "Há coisas que não dão muita margem para invenção", explicou o senador. Tasso afirma que o grande desafio dos partidos atualmente é organizar uma gestão inserida no processo de globalização e absoluta internacionalização de mercados e blocos de comércio, como o europeu, asiático e o próprio Mercosul. É exatamente por isso, acrescenta o senador, que partidos políticos muito radicais à esquerda ou à direita se marginalizam, pois não conseguem se sustentar politicamente neste quadro. O PSDB, segundo Tasso Jereissati, tem que se mostrar diferente do PT pela competência e, assim, conquistar o espaço na sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O tucano afirma que o PSDB possui quadros mais competentes, mais profissionais e mais éticos no trato da coisa pública. O PT, segundo ele, mistura bastante o público com o privado na administração federal, o que desgasta o partido. Ao ser questionado sobre as razões da derrota de caciques políticos nesta eleição, entre os quais ele próprio, o senador rebateu as teses de que o eleitor sempre busca o novo. "Há também decepções com novas lideranças e voltam as antigas. Senão, como explicar a vitória de um cacique como o Íris Rezende em Goiânia, justo na parte mais urbana de Goiás?", ponderou. Há coisas no jogo da democracia e no comportamento dos eleitores, segundo o senador tucano, que são incontroláveis. "Em cada lugar, tem uma conotação diferente. Não tem regra geral", opina. "Quando fui eleito governador, em 1986, Waldir Pires (PT, na época no PMDB) foi eleito na Bahia. Os baianos já naquela época diziam que Antonio Carlos Magalhães tinha morrido. Pois ele voltou, mais forte que no passado, na democracia, e ganhou em Salvador. Também vi Maluf morrer várias vezes", ironizou Tasso, um dos melhores amigos de ACM no Senado.