Título: Para Itamar, PMDB precisa se reencontrar
Autor: Ivana Moreira
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2004, Política, p. A8
Se continuar como está, o PMDB vai continuar sendo sempre um partido coadjuvante. A análise é do ex-presidente da República e atual embaixador do Brasil, o pemedebista Itamar Franco. "O PMDB precisa ter a coragem de saber que foi derrotado em vários lugares", afirmou. Segundo ele, apoiar um candidato vitorioso não significa ganhar as eleições. "É preciso que se diga isso." Juiz de Fora, seu próprio reduto eleitoral, é um dos exemplos de enfraquecimento da legenda. O partido não conseguiu se manter na prefeitura, hoje ocupada pelo pemedebista Tarcísio Delgado, nem passar para o segundo turno. E o candidato apoiado pelo grupo de Itamar no segundo turno, o deputado federal Custódio Mattos (PSDB), acabou derrotado por Alberto Bejani (PTB). "O PMDB precisa se reencontrar com o antigo MDB", declarou. "Mas para que isso aconteça é preciso uma renovação, também de quadros, mas sobretudo de idéias e princípios." O embaixador, que já se desfiliou do PMDB três vezes por discordar das principais lideranças da legenda, não quis comentar a atual postura da Executiva Nacional e as divergências internas sobre deixar ou não a base aliada do governo federal. "O que sei é que se o PMDB continuar como está não passará de coadjuvante, o que é uma pena", repetiu. Itamar contou que tem conversado com lideranças estaduais e está convencido de que o PMDB de muitos Estados é melhor do que o PMDB nacional. "O PMDB mineiro, com raríssimas exceções, quer se reencontrar", exemplificou. Na avaliação do ex-presidente, os resultados das eleições de domingo em cidades como Juiz de Fora, Fortaleza, Porto Alegre e São Paulo - onde partidos e lideranças tradicionais foram derrotadas - mostram que o país precisa urgentemente de uma reforma política. "Os partidos perderam bastante da sua ideologia , não têm muito contato com aquilo que eles pregaram ao longo de sua existência", analisou. "A reforma partidária tem que ser feita para que se possa chegar em 2006 com um novo quadro partidário, para que os eleitores possam se sentir mais próximos dos candidatos." Contrário à reeleição, Itamar acredita que, "mais cedo ou mais tarde", o Brasil avaliará que é melhor um mandato de cinco anos do que a reeleição. "Eu concorri com um indivíduo que disputava a reeleição, eu sei como isso é complicado." Em 1998, Itamar disputou - e venceu - as eleições pelo governo de Minas com o tucano Eduardo Azeredo, que tentava a reeleição. "Creio que o próprio presidente Lula deve entender que o processo de reeleição no Brasil não é bom", apostou ele. "Já foi provado que esse é um erro que se cometeu no Congresso Nacional." Itamar Franco tirou férias na Embaixada de Roma para participar da campanha de Custódio Mattos em Juiz de Fora e tentar reverter o quadro favorável ao desafeto Alberto Bejani. Esteve perto disso, mas acabou derrotado. Mattos perdeu com diferença de apenas 1,4 ponto percentual, ficando com 49,3% dos votos válidos. Itamar deverá voltar a Roma no fim da próxima semana. Mas estará de volta ao Brasil em dezembro, para participar das solenidades de comemoração dos 10 anos do acordo para a criação do Mercosul, assinado por ele em 1994. O convite partiu do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O compromisso de Itamar com Lula é ficar na embaixada até fevereiro, quando outro nome deverá ser indicado para o cargo. Ele diz que ainda não tem planos para o próximo ano e desconversa sobre a possibilidade de voltar a se candidatar a um cargo eletivo. "Cada coisa a seu tempo", declarou. "Vamos aguardar; 2006 está muito longe e é muito difícil analisar no Brasil a política para o ano de 2006."