Título: EUA resistem a pressões para que o FMI ofereça mais recursos à Europa
Autor: Reddy, Sudeep
Fonte: Valor Econômico, 05/12/2011, Internacional, p. A12

O governo dos Estados Unidos e o Fundo Monetário Internacional estão ampliando seu envolvimento na crise da dívida na Europa, à medida que as autoridades da zona do euro lutam com dificuldade para resolver os problemas cada vez mais profundos do continente.

O secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, planeja iniciar amanhã uma viagem à Europa, onde vai se encontrar com importantes autoridades na Alemanha, na França, na Itália e na Espanha e com representantes do Banco Central Europeu. Na sexta-feira, o Departamento do Tesouro - o equivalente americano ao Ministério da Fazenda - disse que a viagem teria como objetivo "discussões com os colegas europeus sobre os esforços para fortalecer as instituições da zona do euro".

De acordo com um representante do Tesouro, o pedido para que Geithner visite as autoridades europeias partiu do presidente Barack Obama, o que demonstra uma crescente apreensão com o agravamento da crise.

Representantes do governo americano têm intensificado a pressão para que os líderes europeus tomem medidas mais fortes, já que os problemas da dívida no bloco dos 17 países dificultam a recuperação econômica americana e ameaçam provocar uma nova crise financeira global.

Os representantes do governo americano estão pressionando os líderes europeus a criarem barreiras de segurança para evitar que as dificuldades financeiras se espalhem a partir das economias mais problemáticas da Europa, em especial a Itália e a Espanha.

Os encontros vão acontecer pouco antes da muito aguardada reunião das autoridades europeias, marcada para quinta e sexta-feiras em Bruxelas, onde se espera que os líderes da zona do euro tomem novas medidas para combater a crise atual.

Os esforços mais recentes dos Estados Unidos coincidem com a adoção de um papel de grande importância do FMI na crise a partir desta semana, quando o fundo passará a monitorar o orçamento italiano. O novo primeiro-ministro da Itália, Mario Monti, apresentou ontem novas propostas de austeridade.

A ampliação da supervisão exercida pelo FMI - um dos mais importantes resultados concretos da encontro do G-20 no mês passado - tem como objetivo trazer uma perspectiva externa de credibilidade para garantir a revisão do orçamento italiano para investidores e outros governos da Europa. Nessa função, o Fundo Monetário vai produzir relatórios trimestrais sobre as finanças da Itália, embora não esteja dando empréstimos de emergência ao país. Mas o Fundo vai poder avaliar de que forma uma ajuda externa à Itália, se necessária, poderá ser estruturada.

A medida ocorre em um momento em que muitas autoridades europeias pedem ao FMI que coloque mais dinheiro para ajudar a combater a crise. Os EUA têm uma participação de 17% no FMI, sendo os maiores cotistas individuais com uma posição-chave na determinação do envolvimento do FMI.

Atualmente, o FMI tem cerca de $ 390 bilhões em fundos disponíveis para empréstimos, ou aproximadamente a metade do total de seus recursos. É um valor significativo para o seu papel usual de ajudar os países menores em crise financeira, mas dificilmente seria o bastante para salvar a Itália e a Espanha, terceira e quarta maiores economia da zona do euro.

"O dinheiro do Fundo Monetário Internacional é limitado", disse Desmond Lachman, ex-autoridade do FMI e membro do centro de estudos American Enterprise Institute. "O FMI terá um papel, mas será um papel pequeno."

Os EUA têm resistido a pressões para que o FMI ofereça mais recursos até que as principais economias da zona do euro parem de relutar em colocar mais do seu próprio dinheiro.

A Alemanha, por exemplo, tem há muito tempo se oposto à possibilidade de que o Banco Central Europeu tenha um papel ainda maior, recusando pedidos de autoridades dos EUA e da Europa para que o BCE tome medidas mais decisivas, semelhantes às tomadas pelo Federal Reserve, o banco central americano, no resgate de instituições financeiras durante a crise dos EUA.

Na semana passada, autoridades europeias concordaram em buscar mais opções envolvendo o FMI. Elas incluem empréstimos bilaterais das nações europeias para dar mais dinheiro ao fundo - dessa forma, sem exigir que os Estados Unidos coloquem mais dos seus próprios recursos - em um fundo especial de recursos destinados à crise da zona do euro.

Um porta-voz do FMI, Gerry Rice, disse na sexta-feira passada que "as autoridades europeias - assim como outros países membros do FMI - estão explorando empréstimos bilaterais ao FMI", incluindo empréstimos de bancos centrais nacionais.

As autoridades europeias também estão avaliando um plano que implicaria o Fundo criar mais de sua moeda artificial, chamada de direitos especiais de retirada, ou SDRs, para serem distribuídos para todos os países membros para dar mais poder de fogo aos governos europeus.

Algumas autoridades também estão estudando a possibilidade do BCE de expandir seu papel no combate à crise, emprestando ao FMI, e, assim, permitindo que o Fundo conduza um programa de resgate com esse dinheiro. Isso poderia resolver a limitação de recursos do Fundo, e, ao mesmo tempo, dar às autoridades europeias uma sensação de segurança de que uma entidade externa garantiria a imposição de condições rígidas à Itália e a outros países que viessem a receber os recursos. Mas não se sabe ainda se o BCE estaria disposto a oferecer recursos dessa maneira.