Título: Futuro do empreendedorismo social em debate
Autor: Célia Rosemblum
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2004, Empresas, p. B2

Desde pequeno, Bill Drayton acreditou na força do indivíduo e em sua capacidade de mudar o mundo. Inspirado em líderes como Mahatma Gandhi e Martin Luther King, montou em 1980 uma fundação, a Ashoka, para estimular o trabalho criativo voltado às mudanças sociais. Hoje tem disponíveis US$ 7 milhões ao ano para apoiar este tipo de iniciativa em diferentes países do mundo. A mistura do espírito de Drayton, que busca um novo ator social, com um pouco da visão de mundo de Madre Tereza de Calcutá resulta em um "empreendedor social", um sujeito comprometido com a transformação e a solução de problemas sociais, econômicos e ambientais. Mais de oitenta pessoas de todo o mundo que se enquadram nesta definição, feita por Pamela Hartigan, diretora geral da Fundação Schwab, estarão reunidas no Brasil de 4 a 6 de novembro. Ao lado de políticos, empresários, líderes trabalhistas e religiosos, representantes de ONGs e de organizações multilaterais eles irão debater, em Campinas (SP), o futuro do empreendedorismo social. O encontro é promovido pela Fundação Schawb, idealizada pelo criador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab. A instituição foi fundada em 1998 e começou a operar em 2001. Desde então, identificou 84 iniciativas em diferentes continentes para apoiar. "São projetos maduros, que servem de modelo para multiplicar", diz Pamela. Os programas contemplam desde tecnologia específica para pequenos agricultores no Quênia à inclusão digital. O apoio da Fundação Schwab não representa nenhum aporte financeiro direto. Mas abre portas importantes para representantes de projetos que já se provaram eficientes. A instituição leva os empreendedores sociais para as reuniões do Fórum Econômico Mundial. "Queremos abrir espaço para que esses modelos sejam conhecidos pelos líderes empresariais", diz Pamela, que define a atuação da instituição que dirige como "uma agência de encontros". "Eles estimulam o contato e fazem pontes", conta Vera Cordeiro, que comanda a Associação Saúde Criança Renascer, uma das nove entidades apoiadas pela fundação no Brasil. Por conta desse vínculo, ela fez um curso de uma semana em Harvard sobre como gerenciar instituições de sucesso no terceiro setor. E obteve, com a intermediação de Pamela, uma doação significativa do Banco UBS para a ONG que dá apoio às famílias de crianças muito carentes que passam por internações no Hospital da Lagoa, no Rio de Janeiro. A Renascer, que já inspirou uma série de projetos similares em outras cidades e Estados, tem, segundo Vera, "know-how em transformar miseráveis em pobres". Com um trabalho de acompanhamento que dura cerca de dois anos, faz com que as famílias das crianças internadas consigam uma moradia com um mínimo de dignidade, matriculem todas as crianças na escola, tenham documentos, estejam com as condições de saúde controladas e, principalmente, garantam seu auto-sustento. A experiência foi levada para as últimas reuniões do Fórum Econômico Mundial em Davos e Nova York. "Eles organizam um espaço para que os empresários venham conhecer os trabalhos", relata Vera. "Na verdade, poucas pessoas passam por lá, mas já é um avanço."