Título: Aumento de insumos e frete deve segurar preços
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2004, Empresas, p. B5

Depois da euforia provocada pelos altos preços do aço em 2004, a indústria siderúrgica vislumbra uma redução nas cotações das placas (semi-acabados) e dos laminados para 2005. A queda de preço poderá chegar a 15% em relação aos picos deste ano. Uma placa hoje vendida a US$ 550 por tonelada poderá cair para US$ 460, mas continuará acima dos US$ 290 de janeiro deste ano. A redução não significa que o próximo exercício será pior do que o atual: na média, os preços de 2005 ainda devem ser maiores do que os de 2004. O cenário indica que desta vez o ciclo de bonança da indústria, acostumada a alternar altas e baixas, deverá se estender por mais um tempo. A expectativa de crescimento menor para a economia mundial em 2005 será determinante no ajuste dos preços. Os preços devem cair nos Estados Unidos e continuar estáveis na Europa e na China, prevê o presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares. Há consenso que a queda de preços não será grande porque o setor continuará pressionado pelo aumentos dos insumos e dos fretes. "Achamos que o ciclo de alta que começou em 2003 deve durar dois ou três anos", disse Soares durante o 45º Congresso Latino-Americano de Siderurgia (Ilafa), encerrado ontem em Buenos Aires. Participaram do encontro 900 pessoas de 35 países. As discussões do Ilafa mostram que mesmo que os preços do aço caíam a partir do segundo trimestre de 2005, eles continuarão elevados, o que comprovaria que a siderurgia está entrando em um novo patamar. Seria algo semelhante ao que aconteceu com a indústria do petróleo após o segundo choque, no fim da década de 70. A partir dali os preços do óleo nunca mais voltaram a ser o que eram. Mas o que está por trás dessa mudança estrutural na siderurgia? "China, China e China", respondeu Louis Schorsch, presidente da Ispat Inland. A Ispat é controlada pelo empresário indiano Lakshmi Mittal, que na semana passada adquiriu a americana ISG, criando a maior companhia siderúrgica do mundo, a Mittal Steel Company. No Ilafa, marcado por faces sorridentes e semblantes descontraídos, Daniel Novegil, do grupo Techint, assumiu a presidência no lugar de José Armando de Figueiredo Campos, presidente da Cia. Siderúrgica de Tubarão (CST). Campos foi um dos executivos a admitir que há uma mudança nos patamares de preço do aço no mundo. A questão é saber em que nível e quando esse novo patamar irá fixar-se, o que depende do comportamento dos preços das matérias-primas usadas pela siderurgia, como carvão, minério e coque siderúrgico. "O carvão mineral, usado na fabricação de coque, poderá ficar entre US$ 100 e US$ 110 por tonelada, com alta de 20%", previu Omar Silva Júnior, presidente da Cia. Siderúrgica Paulista (Cosipa). Uma fonte do setor estimou que no pior dos cenários o preço da placa não cairia abaixo dos US$ 300 por tonelada e o do laminado a quente poderia situar-se na faixa dos US$ 400 por tonelada. Peter Marcus, da consultoria americana World Steel Dynamics, previu diversos cenários para as bobinas a quente. Para ele, há 30% de probabilidade de haver escassez de aço, 30% de a indústria sofrer a sua quarta "espiral da morte" desde 1995 e 40% de o declínio dos preços ser moderado. O novo panorama de matéria-primas, ligado ao aumento brutal de produção da China, será regra básica de sustentação do preço do aço em níveis mais altos, avaliou Renato Vallerini Júnior, diretor comercial da Cosipa. "O aço mudou de patamar, mas é difícil prever onde ele vai parar, já que estamos no auge dos acontecimentos. O certo é que o preço irá manter-se em níveis superiores do que no passado por força da mudança estrutural liderada pela China", diz. A produção de aço da China deve ser de 260 milhões de toneladas em 2004, um aumento de 18% e 50% em relação a 2003 e 2002, respectivamente. Esses aumentos fizeram com que a China passasse de exportador a importador de matérias-primas, como carvão.