Título: Chegou o momento da decisão
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 16/09/2010, Economia, p. 16

Hoje é o último dia para quem comprou ações da Petrobras com recursos do FGTS aderir à nova capitalização

Termina hoje o prazo de reserva de ações para os primeiros da lista que podem comprar os papéis da Petrobras na operação de aumento de capital da companhia marcada para o próximo dia 29. Quem tem a prioridade são os acionistas da estatal que adquiriram ações até 6 de setembro e os que investiram no Fundo Mútuo de Privatização (FMP) com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em 2000 e mantiveram as cotas até hoje. Os interessados não acionistas, cotistas dos Fundos de Investimentos em Ações da companhia (FIA-Petrobras) e os acionistas que compraram os papéis até o dia 14 têm o dia 22 como data final para a reserva.

Quem ainda não é acionista e quiser investir em ações da Petrobras, na maior operação de aumento de capital da história, deve procurar uma das 77 corretoras habilitadas. Para isso, é preciso fazer um cadastro levando documentos e comprovante de residência, além de assinar um termo de reserva. O valor mínimo do investimento é de R$ 1 mil. Não existe taxa para o cadastro e a compra das ações, mas é importante checar os valores de corretagem, que variam de R$ 5 a R$ 20, a cada ordem de venda. Algumas corretoras cobram taxas de até 0,50% sobre o valor total comercializado.

Desde a abertura do prazo de reserva, nesta semana, a consulta por informações tem sido grande e superado as previsões das corretoras, em alguns casos, o que demonstra um grande interesse do investidor pessoa física pela operação da Petrobras. Entretanto, essas empresas informam que ainda não é possível contabilizar o volume de reservas, pois é necessário esperar o fechamento das encomendas dos prioritários, o que só deve ocorrer no começo da semana que vem.

A Caixa Econômica Federal, por exemplo, deverá fechar o total de adesões dos cotistas do FGTS na segunda ou na terça-feira. A instituição estima que sejam sacados das contas do fundo cerca de R$ 900 milhões para a capitalização. Desde a emissão de ações da Petrobras em 2000, os fundos de ações e os FMP ligados à estatal tiveram uma valorização de 863% a 910%, enquanto o rendimento do FGTS ficou em 65,63% no mesmo período, conforme dados levantados pela Caixa. Já as ações ordinárias da companhia tiveram uma valorização de 355,36% no mesmo período.

Preços em queda

O valor das ações para a oferta de capital da Petrobras será divulgado somente em 24 de setembro. E, durante o período de espera, a expectativa é que os preços das ações continuem com forte oscilação devido às operações realizadas por especuladores que forçam a venda para que o preço caia ainda mais porque apostam em uma alta após a oferta. Especialistas avaliam que há uma queda de braço entre o setor privado e o governo, uma vez que o primeiro quer que os preços caiam para que o negócio seja rentável e o segundo deseja o oposto.

Ontem, as ações da Petrobras fecharam com nova retração e continuaram entre os destaques de perdas do Ibovespa, que fechou em alta de 0,61%, para 68.106,85 pontos. As ordinárias caíram 0,53% para R$ 29,98, e as preferenciais lideraram a queda na bolsa, recuando 1,49%, para R$ 26,45. No acumulado do ano, os papéis recuaram 26,62% e 26,31%, respectivamente. A negociação das opções de compra de ações da estatal no mercado futuro indica que as apostas são de que o preço do papel deverá cair ainda mais, de acordo com operadores do mercado. Na segunda-feira, os papéis com vencimento em uma semana chegaram a cair até 60% no dia.

O economista Frederico Turolla, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e sócio da consultoria Pezco, não recomenda uma aposta nessa megacapitalização. Pessoalmente, eu não compraria. O risco é muito elevado, especialmente o político, afirma. É preciso estar preparado e ter estômago para investir na Petrobras e não sair no curto prazo, pois a oscilação do papel vai continuar. Essa forte desvalorização é reflexo da falta de transparência da operação.

O professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Eucherio Lerner Rodrigues, sócio da consultoria Metrika, é outro que não aconselha apostas em um papel tão volátil. Segundo ele, o preço ainda é alto e um valor abaixo de R$ 25 pela ação seria o recomendável para pensar em investir. Na opinião de Rodrigues, os ganhos que ocorreram em 2000 não devem acontecer novamente. Hoje, a Petrobras é outra empresa. Não é a mesma daquela época. Aqueles ganhos do passado não devem se repetir nessa capitalização, afirma ele, acrescentando que o papel não deve mais voltar a valer R$ 40.

Megaoperação

A Petrobras pretende fazer uma oferta pública de R$ 110 bilhões. Caso a procura supere as expectativas, esse montante pode chegar a R$ 127 bilhões com a inclusão de lotes suplementares e adicionais. Ao todo, serão oferecidas 4,29 bilhões de ações inicialmente. O estatuto social da empresa, no entanto, prevê uma capitalização de até R$ 150 bilhões, dos quais um teto de R$ 90 bilhões para a oferta de até 3,2 bilhões de ações ordinárias (com direito a voto) e de R$ 60 bilhões de até 2,4 bilhões de ações preferenciais (sem direito a voto, mas com prioridade para o recebimento dos dividendos).

A tecnologia para a exploração do pré-sal ainda está sendo desenvolvida, o que aumenta o risco do investimento na Petrobras, pois ainda não há garantias dos custos. Não se sabe se o comércio desse petróleo será rentável para a Petrobras. É muito arriscado apostar na estatal em um momento em que outras empresas privadas do setor de petróleo estão descobrindo reservas em profundidades mais rasas que o pré-sal e, portanto, vão oferecer um petróleo mais barato, afirma o professor da FGV.

Como investir

Hoje é o último dia para quem usou parte do FGTS no Fundo Mútuo de Privatização (FMP) da Petrobras ou comprou ações da companhia até 6 de setembro de 2010 fazer a reserva para a compra de ações novas da estatal na capitalização da companhia no dia 29

Para a segunda chamada dos acionistas, serão considerados aqueles que terão os papéis comprados até o dia 14 e o prazo para a reserva terminará dia 22

O cotista que tiver interesse em aumentar a participação no FMP Petrobras deverá procurar a administradora do fundo do qual participa levando o extrato do FGTS e documentos de identificação. Hoje, existem cerca de 35 instituições que cuidam desses fundos

O cotista ou acionista poderá comprar até 30% do saldo do FGTS ou do total das ações em posse, ou até 34% do valor da ação ordinária (com direito a voto) ou da preferencial (sem direito), sempre considerando o valor que for menor

O valor reservado ficará imediatamente bloqueado no fundo, mas o débito só será realizado no dia da liquidação prevista para a capitalização, ou seja, dia 29

A carência do investimento será de um ano, mas o resgate poderá ser feito respeitando as mesmas regras de saque do FGTS

Para quem não é acionista

Quem não se enquadra entre os prioritários pode, desde segunda-feira até o dia 22, realizar os pedidos de reserva junto às corretoras cadastradas na BMF&F. Para isso, é preciso fazer um cadastro levando documentos e comprovante de residência e assinar um termo de reserva na corretora

A lista das 77 entidades habilitadas para a operação está no site da bolsa. O mínimo para investir em ações da Petrobras será de R$ 1 mil e o máximo, de R$ 300 mil

Não existe taxa para o cadastro e a compra das ações, mas é importante checar os valores de corretagem. Eles podem variar de R$ 5 a R$ 20, a cada ordem de venda, dependendo da corretora. Algumas corretoras cobram até 0,50% sobre o valor total comercializado

Também é possível investir indiretamente, por meio de aplicações em cotas de Fundos de Investimentos em Ações da Petrobras (FIA-Petrobras) existentes ou a serem constituídos no contexto da oferta global para investimento em ações preferenciais. Para isso, é bom ir ao seu banco e conversar com o seu gerente. O valor mínimo para esse tipo de aplicação é de R$ 200 e o máximo, de R$ 300 mil

Fonte: Corretoras, Caixa e Petrobras