Título: Campos avança em áreas sociais e cria passivo ambiental
Autor: Camarotto,Murillo
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2011, Política, p. A6

Áreas mais criticadas na primeira gestão do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), saúde e educação estiveram mais presentes na agenda oficial em 2011, com inaugurações e anúncios de novos projetos. A hegemonia política crescente possibilitou a Campos um verdadeiro passeio na Assembleia Legislativa, onde aprovou tranquilamente todas as matérias de seu interesse. O descuido com a área ambiental, bem como a nomeação da mãe para o Tribunal de Contas da União (TCU), concentraram as críticas dos poucos oposicionistas que ainda resistem em Pernambuco.

Com um ano de atraso, Eduardo Campos inaugurou semana passada o Hospital Pelópidas Silveira, completando, assim, a promessa feita na campanha de 2006, de que entregaria três novos hospitais na região metropolitana do Recife. Também na semana passada foi entregue um novo hospital na cidade de Palmares, uma das mais castigadas pelas chuvas ocorridas nos dois últimos anos na Mata Sul do Estado.

O governo inaugurou em 2011 três novas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), porém nenhuma no modelo "Especialidades", prometido na campanha do ano passado, que contempla serviços ambulatoriais, de odontologia e de fisioterapia. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, a ordem de serviço para a construção da primeira dessas unidades, no município de Petrolina, foi assinada recentemente.

Na área da educação, que não esteve na vitrine do primeiro mandato, Campos anunciou em novembro um ambicioso programa de ensino de idiomas nas escolas públicas. Um grupo de 25 mil alunos do ensino médio terá aulas de inglês e espanhol por meio de um convênio firmado com a Multi-CCA, empresa que controla redes de escolas como Wizard e Skill. Além do curso, o governo pretende mandar os estudantes mais bem avaliados para intercâmbios nos Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Nova Zelândia e Espanha.

Campos também prometeu no ano passado construir cem novas escolas técnicas estaduais (ETEs) durante o segundo mandato. Em 2011, porém, nenhuma foi inaugurada. A Secretaria Estadual de Educação informou que nove ETEs estão sendo erguidas e devem abrir as portas em fevereiro.

Outro compromisso de campanha foi cumprido no início deste mês, com a conclusão do sistema Pirapama, projeto de R$ 600 milhões que promete acabar com o racionamento de água no Grande Recife. No entanto, dias após o anúncio de finalização da obra, a imprensa pernambucana mostrou casos de pessoas que, mesmo sendo vizinhas à estação de tratamento recém-inaugurada, ainda carregavam baldes na cabeça. O governo se comprometeu a resolver o problema.

O até então secretário de Recursos Hídricos do Estado, João Bosco de Almeida, deixou o cargo na semana passada para assumir a presidência da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). A nomeação, que se arrastou durante todo o ano, representou uma vitória política de Campos na queda de braço com outros governadores do Nordeste, que pleiteavam maior influência na indicação de nomes para o segundo escalão do governo federal.

Mas foi por conta de outra indicação que o governador viveu seus dias mais turbulentos em 2011. Nos moldes de uma verdadeira operação de guerra, Campos construiu politicamente em Brasília uma candidatura imbatível da mãe, a deputada federal Ana Arraes (PSB), para substituir Ubiratan Aguiar no TCU. Apesar da vitória tranquila, o governador foi bastante criticado pelo apetite exagerado com que entrou na disputa. Nos bastidores, pessoas próximas a ele admitem que houve certo arrependimento.

A mesma voracidade, contudo, é praticada frequentemente em seu próprio quintal. Neste ano, Campos usou o prestígio para garantir a mudança de regras na Assembleia Legislativa, possibilitando um terceiro mandato para a mesa diretora da Casa, ocupada por pessoas de sua confiança. Praticamente dizimada, a oposição conta com uma bancada "flutuante" de dez parlamentares. Flutuante porque a maioria dos seis deputados do PSDB, sigla teoricamente de oposição, vota constantemente com o governo.

Campos também foi bastante criticado ao anunciar, em setembro, a construção de uma usina termelétrica movida a óleo combustível, considerada muito poluente. O empreendimento será erguido pelo grupo Bertin no Complexo Industrial e Portuário de Suape, menina dos olhos do crescimento econômico de Pernambuco. Assim como vem ocorrendo nos últimos anos, o governo seguiu em 2011 anunciando muitos novos investimentos para o Estado.

Pré-candidato à Prefeitura do Recife, o deputado tucano Daniel Coelho afirma que o desenvolvimento não vem sendo acompanhado das devidas contrapartidas sociais e ambientais. Além da "usina suja", como passou a ser chamada a termelétrica, ele registrou os diversos efeitos colaterais do crescimento no entorno de Suape, como tráfico de drogas e prostituição. Ainda assim, o tucano prefere não pegar pesado. O consenso na capital pernambucana é de que quem pretende ter alguma chance nas urnas em 2012, não deve ter o governador como inimigo. "O governo, sem dúvida, teve seus méritos, especialmente por continuar atraindo os investimentos", ponderou Coelho.