Título: Dólar pode ajudar reservas, diz Furlan
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2004, Brasil, p. A4

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, disse ontem que o governo deveria aproveitar o patamar do dólar para recompor reservas internacionais. Furlan acredita que o dólar a R$ 2,70 poderá afetar o desempenho do comércio exterior e aconselhou os exportadores a utilizarem em suas operações outras moedas, como o euro, o iene ou a libra esterlina. "O dólar nesse nível pode ser uma oportunidade para que o Brasil recomponha reservas que foram perdidas ao longo dos anos e possa, no médio prazo, ter uma avaliação de risco menor e juros internacionais menores", disse o ministro, após a abertura do 24º Encontro Nacional dos Exportadores (Enaex), em São Paulo. As declarações de Furlan evidenciam o debate dentro do governo sobre a política cambial. Também em São Paulo, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, reforçou que "o BC não tem uma meta para a taxa de câmbio". A instituição opera, segundo ele, com meta de inflação. Meirelles disse que o BC anunciou, no início do ano, compromisso de não dar volatilidade desnecessária ao mercado de câmbio. O BC comprou US$ 2,6 bilhões no mercado em janeiro e depois atuou apenas em 7 de fevereiro, quando adquiriu US$ 7 milhões. De lá para cá, deixou de atuar no mercado doméstico de câmbio. A recomposição de reservas tem sido feita por meio da captação de recursos no exterior com lançamento de bônus. Neste ano, já foram captados US$ 5,2 bilhões, mais que os US$ 4 bilhões previstos. As reservas líquidas do Brasil, excluindo recursos do FMI, estão na casa de US$ 22 bilhões. Ao discursar para uma platéia de exportadores, Furlan defendeu que o Brasil não pode mais ser "refém" do dólar e que "está na hora de aumentar a diversificação de moedas". O ministro também afirmou que os empresários deveriam investir em mercados como Rússia, México e Índia que são "promissores" e onde as exportações podem crescer em uma velocidade maior que nos Estados Unidos. Para o presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), Benedicto Moreira, pode ser complicado para o exportador, dependendo de seu poder de barganha, operar com outras moedas. "Quando você vai comprar um produto na Europa, eles querem te vender em euro. Mas quando você vende, querem te pagar em dólar". O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, também afirmou que o BC deveria intervir no mercado para evitar a desvalorização do dólar. "Quando o governo quer, consegue. Estou preocupado com o câmbio para dar continuidade no ritmo de exportações", disse. Skaf acredita que o dólar a R$ 3,00 seria um nível "equilibrado". Furlan disse que as exportações devem atingir US$ 100 bilhões em 2005 e que o fluxo de comércio ultrapassará US$ 200 bilhões. "Tenho certeza que o vetor de crescimento das exportações será mantido". Mas ressaltou que o ritmo deve diminuir por conta da maior demanda interna e falta de infra-estrutura. O ministro também aproveitou a abertura do Enaex para justificar a decisão do governo de reconhecer a China como economia de mercado, durante a visita do presidente chinês, Hu Jintao, ao país. "Nós temos como nos defender", garantiu Furlan, acrescentando que a legislação antidumping segue vigente, com a diferença de não haverão medidas preventivas. "Muita gente diz que o Brasil vai ser invadido pelos produtos chineses. Por quê não foi invadido até agora?", questionou. Mesmo após o discurso de Furlan, Skaf manteve as críticas. "Nós temos que lembrar que, em 2002, o dólar estava a R$ 4, e que, em 2003, o mercado doméstico estava desastroso. Agora com a recuperação do mercado doméstico e com o dólar a R$ 2,70, segure-se que vem importação", disse. Questionado sobre a escolha de Guido Mantega para a presidência do BNDES, Furlan respondeu apenas que o banco ajudará as exportações com um orçamento "agressivo" para 2005. O ministro, que teve desavenças com o ex-presidente Carlos Lessa, acrescentou que já teve quatro reuniões com Mantega e que voltarão a se encontrar quarta-feira. "É um trabalho de equipe que vai produzir resultados", afirmou. (Colaborou Sérgio Lamucci)