Título: Ministro de Comércio do Canadá aposta nas negociações na OMC
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2004, Brasil, p. A4
O ministro do Comércio Internacional do Canadá, James Peterson, diz que seu país está preparado para perseguir a liberalização comercial em todos os âmbitos, do bilateral e regional ao hemisférico e global, mas destaca que a prioridade hoje são as negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC). Embora mostre entusiasmo com as perspectivas para a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), Peterson considera as discussões na OMC cruciais, por se tratar do foro em que as conversações sobre subsídios agrícolas podem avançar de forma mais promissora. Afinal, a Europa - fortemente protecionista na agricultura, assim como os EUA - também participa das discussões. Peterson está no Brasil por ocasião da visita da missão comercial do Canadá, que conta com a presença do primeiro-ministro Paul Martin e com representantes de 51 empresas canadenses. Em entrevista exclusiva ao Valor, o ministro mostrou-se empenhado em ampliar as relações comerciais e em aumentar o volume de comércio entre Brasil e Canadá, que em 2003 totalizou US$ 2,1 bilhões, um número muito pequeno, como disse ele, especialmente considerando o tamanho das duas economias. Para Peterson, os momentos "tristes" das relações comerciais ocorridos em 2001, com as disputas entre a Embraer e a Bombardier e as restrições impostas pelo Canadá às exportações brasileiras de carne, estão em grande parte superados. A prioridade comercial do Canadá sempre foram os EUA, por motivos geográficos, lingüísticos e por se tratar de um mercado de forte crescimento. O Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), que entrou em vigor em 1994, reforçou essa estratégia. Em 2003, o Canadá exportou 380 bilhões de dólares canadenses (cerca de US$ 316 bilhões, em valores de hoje), dos quais mais de 80% para os EUA. Embora os EUA devam continuar a ser o principal destino das exportações canadenses, o governo do Canadá indicou que pretende ampliar o comércio com países emergentes, com destaque para Brasil, China e Índia. Peterson deixou claro seu otimismo com as perspectivas de negociação no âmbito da OMC. Cita como animador o encontro realizado em Genebra, em julho, no qual foram acertadas as bases da negociação para a Rodada Doha, o chamado "framework agreement". Peterson ressaltou a atuação do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, na ocasião, quando ninguém acreditava no sucesso das discussões. O otimismo com a Rodada Doha não quer dizer que Peterson não acredite na concretização da Alca. Para ele, um entusiasta do Nafta, vale a pena insistir nas negociações para a criação "de um bloco comercial no Hemisfério Ocidental". "Essa sempre foi a posição do Canadá." O ministro não tem previsões sobre um possível novo cronograma para a Alca, mas acredita que a área de livre comércio do continente americano será formada. O cronograma inicial, que previa o fim das negociações para janeiro de 2005, não será cumprido. "As negociações não caminham rapidamente como esperávamos, mas nós apoiamos o Brasil e os EUA nos esforços para recomeçar as conversações." Ele ressalta, porém, que avanços em relação aos subsídios agrícolas no âmbito da Alca são mais complicados. "A Alca tem um potencial de lidar com assuntos de acesso a mercados, como nos setores industrial, de serviços e na facilitação do comércio." Peterson insistiu na importância de aumentar o comércio entre Brasil e Canadá. Em 2003, as exportações brasileiras para seu país totalizaram US$ 1,4 bilhão, enquanto as vendas canadenses para cá foram de US$ 638 milhões. Segundo ele, o Canadá tem muito a oferecer ao Brasil em áreas como energia, telecomunicações e biotecnologia. O Brasil tem exportado automóveis para lá, além de produtos como suco de laranja, aço, café e açúcar. A Volkswagen tem vendido Golfs fabricados aqui. O ministro traçou um quadro positivo quanto à melhora das relações entre os dois países. "Nós tivemos alguns momentos tristes, mas foram coisas menores. Em qualquer relação de comércio há disputas", disse. "E estamos trabalhando juntos para chegar a um acordo sobre subsídios para aviões. Estamos quase lá." Em discurso no evento Fazendo negócios com o Canadá, o primeiro-ministro Paul Martin lembrou que a relação entre os dois países foi marcada por desafios, citando o caso entre Embraer e Bombardier, mas destacando acreditar "que chegou a hora de Canadá e Brasil reiterarem a parceria para fortalecer e construir nossas relações bilaterais, para trabalhar em conjunto, projetar nossos valores comuns e promover soluções multilaterais para desafios internacionais". Martin defendeu a criação do que chamou de novo multilateralismo, no qual governos possam se unir pelo interesse em determinado assunto e no compromisso de buscar soluções para ele. (Com agências noticiosas)