Título: Temer aposta em racha se o PMDB aceitar mais uma pasta no governo
Autor: Cristiane Agostine, César Felício e Rosângela Bitt
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2004, Política, p. A7

O PMDB ameaça expulsar do partido os parlamentares que aceitarem cargos no governo federal. O presidente nacional da legenda, Michel Temer, foi enfático: "Quem aceitar o cargo deve sair do partido. Não há possibilidade de licença pois parecerá farsa". Temer não afasta a possibilidade de um racha no PMDB, caso partidários aceitem mais um ministério no governo. "É melhor ter um partido menor do que um partido grande fragmentado". Rumores de dentro do partido cogitaram a saída do PMDB da base aliada ao governo. Para tentar conter a migração, o presidente Lula deve se reunir com os deputados da sigla na casa do ministro das Comunicações, Eunício Oliveira. Na sexta-feira, Lula encontrou-se com 16 dos 23 senadores da bancada e propôs a ampliação do espaço da sigla no governo e aliança estaduais. Lula prometeu ainda que o PT não será adversário direto ao PMDB, nas próximas eleições, em todos os Estados em que seu partido não for favorito. Mas a negociação não vai ser fácil. Temer afirma que não vai aceitar ministérios e garante candidatura própria para 2006. "Não queremos cargos por uma questão ética. Queremos ter candidatura própria para a Presidência, tanto que na convenção quem não aceitar e pedir para rever essa decisão, não será por maioria absoluta, mas por maioria de dois terços". Ainda amanhã, o presidente do Senado, José Sarney, deve se encontrar com o coordenador político do governo, Aldo Rebelo, com o presidente do PT, José Genoino, e com o ministro da Casa Civil, José Dirceu. Ainda não está certa a participação de Michel Temer. Sarney está em rota de colisão com o líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL), e não participou do jantar da sexta-feira. O alagoano foi o principal articulador da obstrução na Câmara que inviabilizou a aprovação da emenda constitucional que permitia a reeleição das mesas diretoras da Câmara e do Senado. O encontro de amanhã servirá exatamente para negociar com Sarney uma ação comum com o governo em relação ao problema sucessório das duas Casas. Para ganhar mais tempo e tentar diminuir os ruídos dos pemedebistas, Sarney tenta adiar a convenção. Previsto para dia 12 de dezembro, o encontro vai tratar das alianças do PMDB com o governo federal, mas o presidente da legenda garantiu a manutenção da data. Ontem, Sarney estava otimista com o andamento das negociações do governo com o PMDB. A idéia de tentar adiar a convenção já estava descartada, por falta de tempo hábil. Mas a estratégia de continuar o governo buscando o apoio do PMDB, e seguir com o partido, mesmo dividido, era a que deveria prevalecer. "O PMDB é o único partido que garante a divisão em estatuto", comentou Sarney, referindo-se ao inciso 1º do artigo 4º que propõe uma democracia interna "garantindo o direito de formação de correntes de opinião". Temer alfineta o aceno do presidente para tentar conquistar mais aliados do PMDB e PP. "Se pudesse propor ao presidente Lula, diria: 'Não participe desses ágapes, desses almoços que estão sendo realizados porque pode parecer tentativa de cooptação'. Queremos um caminho próprio, para ser mais uma alternativa ao país, além do PT e PSDB". Mas para dirigentes do PT, a oferta do presidente será suficiente para garantir a vitória do governismo na convenção do partido que decidirá se o PMDB fica ou não ao lado do Palácio do Planalto. De acordo com um integrante do comando político do governo, se as propostas de Lula conseguirem entre os deputados a mesma receptividade que tiveram entre os senadores, os governadores que querem o afastamento do PMDB do governo perderão a maioria entre os convencionais. Na avaliação dos petistas, o encontro de amanhã tende a ser mais tenso do que o jantar com os senadores. Entre os deputados pemedebistas, há um núcleo de cerca de 15 dos 76 parlamentares que seguem a liderança do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e trabalham pela aliança com o PSDB em 2006. Uma outra parte dos deputados segue a orientação dos governadores. Vencido este obstáculo, o comando político do governo avalia que os convencionais não terão como se contrapor à maioria da bancada do partido no Congresso. Ontem, o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique (PMDB), perfilou-se definitivamente ao lado dos governistas do partido. "O PMDB é um partido da governabilidade, tem que garantir a governabilidade, ficar ao lado do presidente Lula e votar com ele na Câmara e no Senado", disse. Quanto ao seu problema específico com o PT, que se afastou de sua base de apoio em Santa Catarina, Luiz Henrique minimizou: "O PT de Santa Catarina, em grande parte, não é o PT do Lula". Os cargos são um prato cheio para a oposição. "Quem ganha é governo, quem perde é oposição. O PMDB deveria ter ficado na oposição no primeiro momento porque perdeu a eleição, e resolveu agir em torno de cargos. (O aceno com cargos) foi uma opção do governo desde o primeiro momento: a cooptação", criticou o senador Jorge Bornhausen, presidente nacional do PFL.