Título: Setor precisa investir na formação de técnicos
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2011, Especial, p. F4

O apagão de mão de obra é um desafio ao pré-sal. Centenas de cursos superiores foram criados nos últimos anos nas universidades, mas a carência maior é de pessoas que concluam o ensino técnico. Algumas expectativas para o futuro do setor dão uma ideia das dificuldades para a capacitação de pessoal. Em uma década devem ser criadas quase seis vezes mais vagas do que o contingente hoje absorvido pelo setor.

O Programa de Mobilização da Indústria do Petróleo (Prominp) diagnosticou uma demanda de 265 mil trabalhadores qualificados para a área de óleo e gás até 2020 - 66% em ocupações operacionais. O número é quase três vezes e meia os 79.170 que já foram qualificados em todo o país nos últimos quatro anos.

Um cenário para daqui a três anos foi apresentado no 8º Encontro Nacional do Prominp realizado no fim de novembro em São Luís, no Maranhão. Ele prevê, com base no Plano de Negócios da Petrobras 2010/2014, a abertura de vagas de trabalho em 40 sondas, 281 embarcações de apoio e plataformas, nos estaleiros que constroem os navios da frota de petroleiros da Transpetro, em quatro novas refinarias e nos complexos petroquímicos de Suape (PE) e do Rio.

Um estudo da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), em parceria com a Organização Nacional da Indústria de Petróleo (Onip), estima que a cadeia produtiva de óleo e gás é responsável por 420 mil empregos formais diretos e indiretos no Brasil. O número pode chegar a 2,5 milhões de empregos caso seja implantada uma agenda de competitividade: da inserção da indústria no processo de inovação à melhoria das condições de infraestrutura e transporte, passando pela disseminação do conhecimento, ampliação da educação técnica e superior e reforço da educação básica.

"Hoje, o apagão de mão de obra para o pré-sal é consequência das falhas da formação básica", diz Alexandre dos Reis, diretor de Relações com o Mercado do sistema Firjan, que reúne Sesi, Senai e Senac. "Há baixa quantidade de gente capacitada para ingressar no ensino médio em condições de se formar técnico."

Só o Senai é responsável pela capacitação de 52,78% dos formados pelo Prominp em todo o país. As maiores carências de pessoal se concentram em logística, indústria naval e automação. Nos últimos três anos, os investimentos do sistema para atender a demanda por capacitação chegaram a R$ 180 milhões em novas unidades e equipamentos de última geração, como o simulador de treino em navio plataforma.

"As empresas tentam fazer a sua parte, mas o mundo corporativo brasileiro ainda investe duas a três vezes menos em treinamento do que em países desenvolvidos", afirma Alexandre dos Reis, da Firjan. "As empresas ainda tratam investimento em treinamento como despesa e preferem pegar funcionários das concorrentes a capacitar seus próprios empregados."

Um programa da Agência Nacional de Petróleo (ANP) reúne hoje mais de 30 universidades brasileiras capacitadas para a formação de mão de obra. É o caso da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que vai oferecer no ano que vem um MBA em Gestão de Empreendimentos de Construção Naval e Offshore no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Oceânica, que atua em áreas críticas para o desenvolvimento do pré-sal.

"Todas as universidades tiveram que acelerar os processos de renovação dos currículos com o pré-sal", diz Luiz Landau, professor de Engenharia Civil da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). (P.V.)