Título: Troca entre PT e PMDB é alternativa à reeleição das mesas
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2004, Política, p. A11

As manifestações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra à proposta de emenda constitucional (PEC) que permitiria a reeleição dos presidentes da Câmara, João Paulo Cunha, e do Senado, José Sarney, foram interpretadas no Congresso como um importante sinal de que não há mais ambiente político para a votação. Conforme publicou o Valor, Lula disse, durante vôo para São Paulo na segunda-feira à noite, que a reeleição das Mesas seria "inoportuna e extemporânea". Começa a ganhar peso no Congresso a tese de dar ao PMDB a presidência da Câmara e, ao PT, a presidência do Senado. Seria uma troca das presidências entre as duas Casas para pacificar o clima no Senado, já que a disputa mais acirrada é entre o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), e Sarney. Calheiros não aceita essa mudança. Os aliados já vinham cobrando do Palácio do Planalto uma posição mais explícita sobre a reeleição das Mesas, por considerarem que essa tornou-se a razão central do imobilismo no Congresso, especialmente na Câmara. Parlamentares relataram ao Valor que a insistência e obstinação de João Paulo em votar a emenda da reeleição começa a provocar efeitos colaterais no próprio PT. Petistas a favor da PEC já cogitam se ausentar do plenário caso a matéria seja incluída na pauta. A avaliação dos senadores é que Sarney, mais hábil, não se envolveu diretamente no tema. Já o desgaste de João Paulo foi maior, o que pode levá-lo a perder força no próprio PT. "Nunca existiu nada sobre reeleição. O meu mandato termina em 15 de fevereiro e sempre só analisei só essa hipótese. Vou terminar o meu mandato com altivez. Se os partidos da base não concordam com a emenda da reeleição, é só pedirem o arquivamento do projeto, que nem está na pauta. O arquivamento põe fim a essa situação", reagiu João Paulo ontem. Perguntado se ele próprio não poderia solicitar o arquivamento, ele não respondeu. Parte do PT não esconde o desconforto com tema. "Eu espero que a declaração do Lula seja um reconhecimento claro de que o governo não vai se meter nisso, e que, a partir daí, as duas Casas percebam que não há mais espaço para essa discussão", afirmou o deputado Walter Pinheiro (PT-BA). Ele fez elogios à gestão de João Paulo e disse que seria um gesto de grandeza dele reconhecer que seu trabalho pode ter continuidade sob novo comando. "Tendo a achar que o Lula está certo. Mas nós assumimos um compromisso com o João Paulo, e agora é muito difícil recuar. Temos é que colocar isso logo em votação e resolver o problema", analisou um petista da ala moderada. Ele reconhece, no entanto, que a declaração de Lula tem um peso forte e pode mudar o quadro, convencendo inclusive o próprio João Paulo a abandonar a estratégia da insistência. Para um senador pemedebista, o presidente Lula constatou que a emenda da reeleição é assunto explosivo, e a posição do governo pode melhorar o clima na bancada. "É um fator de destensionamento relacional", disse o parlamentar. (MLD e HGB)