Título: UPPs no Rio ajudam a levar turistas a albergues e hotéis em favelas
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 29/12/2011, Empresas, p. B3

Construída em 1926, a casa que abrigava a antiga Embaixada da Polônia, no Rio de Janeiro, tem hoje 45 leitos, 70% deles já ocupados por turistas brasileiros e estrangeiros que chegaram para passar o Réveillon no Rio. Fica na rua Saint Romain, via de acesso às favelas do Pavão/Pavãozinho e Cantagalo, entre os bairros de Copacabana e Ipanema, ocupadas pela polícia em dezembro de 2009.

A casa é mais um dos imóveis em favelas cariocas que foram transformados recentemente em albergues e até em hotéis na esteira da pacificação das comunidades. Com preços entre R$ 100 e R$ 950, do Leme ao Leblon esses estabelecimentos estão se firmando como mais uma opção de estadia na orla do Rio.

A antiga embaixada é hoje o albergue Pura Vida. Inaugurado em fevereiro de 2011, pertence a três cariocas que apostaram na pacificação do Cantagalo para abrir o negócio. "Eu não faria esse investimento se não tivesse a UPP [Unidade de Polícia Pacificadora]", diz Dalton Ottati, um dos sócios.

Ottati, que não informa quanto investiu no empreendimento, diz que 70% dos turistas que escolhem o albergue são brasileiros. "Com os preços do Rio subindo, os albergues estão sendo boa opção para quem vem de outros Estados, apesar de não serem ainda muito difundidos por aqui", diz ele. Reconhece que nem todos os hóspedes sentem-se tranquilos na favela. "Aos poucos ficam até impressionados com a receptividade. Conto nos dedos da mão os casos dos que não se hospedaram". O negócio vem dando tão certo que os sócios investirão R$ 500 mil para aumentar a capacidade para 75 leitos.

Com sete quartos entre coletivos e casal, o Pura Vida oferece hospedagem para o fim de semana do Réveillon entre R$ 30 e R$ 150 a diária. Focado no público jovem, vai haver uma festa na virada do dia 31. Os 250 ingressos, vendidos a R$ 200 para mulheres e R$ 250 para homens, já estão esgotados.

Também na rua Saint Romain, próximo à favela, está a Casa Mosquito, do francês Benjamin Calo. Lá uma diária para casal custa R$ 550 em baixa temporada. No fim de semana do Réveillon vai a R$ 950. No Rio há um ano e meio, Calo comprou o imóvel de cerca de 100 m² em maio de 2010. Com investimento total de R$ 2 milhões divididos entre a compra e 13 meses de obras, a Casa Mosquito foi inaugurada em novembro deste ano e tem mantido taxa de ocupação de 95%. Para o Réveillon e o Carnaval, já está lotada.

Com apenas três quartos, a Casa Mosquito oferece "uma experiência personalizada" de atendimento, segundo Cano. Ele planeja investir mais R$ 2 milhões para reformar uma construção anexa cujos pilares já existiam quando comprou a casa. A Casa Mosquito terá mais sete quartos.

No morro do Vidigal, na Avenida Niemeyer, uma das vistas belas do Rio, o peruano Jorge Melendez montou com sócios o albergue Casa Alto Vidigal. Ele diz que a pacificação atraiu turistas às favelas. Embora funcione há dois anos, diz que o número de visitantes aumentou desde a ocupação do Vidigal, em novembro. "Todo dia vêm turistas que querem conhecer a casa". Para o Réveillon, há pacotes entre R$ 100 e R$ 300 por dia com o mínimo de quatro diárias.

Melendez e seu sócio, o austríaco Andreas Wielend, investiram R$ 200 mil na compra e reforma do imóvel há dois anos. "Era uma vista sensacional mas difícil de definir, pois o ambiente era muito precário para se fazer uma prospecção de negócio". A Casa Alto Vidigal vai abrir as portas no Réveillon para uma festa em que são esperadas 500 pessoas com ingressos de R$ 20 e R$ 250. A vista é das praias de Leblon, Ipanema e Copacabana e da Lagoa Rodrigo de Freitas. "A primeira festa teve mais de 600 pessoas, 90% cariocas", diz Melendez.