Título: Balcão montado em áreas selecionadas
Autor: Sassine, Vinicius
Fonte: Correio Braziliense, 19/09/2010, Política, p. 2

Família de Erenice ocupava cargos estratégicos para as atividades empresariais na Esplanada e no GDF

Do Governo do Distrito Federal (GDF) à Casa Civil, a ex-ministra Erenice Guerra mantinha parentes, aliados e amigos em pelo menos seis ministérios e duas secretarias locais. A distribuição dos cargos públicos com as atividades empresariais da família indica estratégia de atuação para capitalizar a influência de Erenice na pasta responsável por coordenar os ministérios. O filho da ex-ministra Israel Guerra acumulava a atividade como sócio da empresa de consultoria acusada de tráfico de influência com cargo público na Terracap, agência do Governo do DF responsável pela administração de áreas urbanas e rurais. Marido de Erenice, José Roberto Camargo Campos é sócio de empresa de extração mineral, com atuação na capital federal e no Entorno.

Em 2003, quando a ex-ministra ainda era consultora administrativa do Ministério de Minas e Energia na gestão Dilma Rousseff, o marido de Erenice foi contratado para prestar consultoria para a Eletronorte. À época, ela participava do conselho administrativo da estatal. Israel também foi nomeado para a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) de 2006 a 2007. O trânsito na agência e a influência da ex-ministra rendeu a ele, sócio e consultor da empresa Capital Assessoria, facilidades para ajudar a MTA Linhas Aéreas a renovar concessão junto ao órgão e mais tarde conseguir fechar contrato milionário com os Correios.

O sobrenome era vendido como sinônimo de sucesso nas operações envolvendo dinheiro público. O empresário Rubnei Quícoli afirma que a empresa de Israel teria prometido interceder junto ao BNDES, instituição ligada ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, para a EDRB conseguir um empréstimo de R$ 9 bilhões. Se o empresário aceitasse a consultoria do filho de Erenice, deveria pagar R$ 240 mil mais 5% do valor negociado com o BNDES. Erenice compunha o conselho de administração do banco de desenvolvimento. Pelo menos dois amigos de Israel Stevan Kanezevic e Vinícius Castro também foram nomeados para cargos na Casa Civil. Outro filho de Erenice, Saulo Guerra, sócio da empresa Capital, engrossa a lista de parentes na Esplanada. Saulo já esteve lotado no Ministério da Cultura.

O irmão de Erenice, José Euricélio Alves de Carvalho, também tinha cargo no GDF. Célio, como é conhecido, era lotado na Novacap, companhia que cuida das obras públicas e de urbanização da capital. Mas, na Esplanada, Célio passou pela Secretaria de Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades. De lá, o irmão de Erenice foi para a Universidade de Brasília (UnB), na Agência de Desenvolvimento Institucional como coordenador de projetos. Três meses depois de sua chegada, a Fundação Universidade de Brasília foi contemplada com verba de R$ 10,5 milhões para projeto de estudo de mobilidade urbana.

O número 6,8 mil Salário recebido por Israel Guerra na Terracap. Segundo denúncia do Correio, ele não aparecia no trabalho. Acabou exonerado na última sexta-feira.

Até a data da eleição, 3 de outubro, nenhum candidato, membro de mesa receptora e fiscal de partido poderão ser detidos ou presos, salvo em flagrante delito

Entenda o caso A série de denúncias

Uma sucessão de denúncias ao longo da semana, depois da reportagem da revista Veja, culminou na demissão de Erenice Guerra do cargo de ministra-chefe da Casa Civil. Indicada ao cargo pela ex-ministra e candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, Erenice não resistiu às evidências de que seu filho, Israel Guerra, operou um esquema de lobby quando a mãe ainda era secretária executiva da Casa Civil e durante o exercício do cargo de ministra.

A Capital Consultoria e Assessoria, empresa utilizada por Israel, foi contratada pela Master Top Linhas Aéreas (MTA) para agilizar a renovação de contratos com os Correios. A comissão pelo serviço ou taxa de sucesso teria sido de R$ 5 milhões, segundo denúncia da revista Veja. A família Guerra esteve envolvida também supostamente em diversas outras irregularidades.

Uma auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) apontou um irmão de Erenice, José Euricélio Alves, como responsável por um desvio de R$ 5,8 milhões da editora da Unb. O Correio mostrou que Israel era lotado na Terracap, empresa do governo do Distrito Federal (GDF), e recebia R$ 6,8 mil por mês sem comparecer ao trabalho. Ele foi exonerado do cargo depois do escândalo.