Título: Votorantim e Suzano ficam com a Ripasa
Autor: Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 11/11/2004, Empresas, p. B1

Em uma negociação relâmpago, que durou menos de 48 horas, a Suzano Bahia Sul e a Votorantim Celulose e Papel (VCP) fecharam ontem a compra do controle da fabricante de papel e celulose Ripasa por US$ 720 milhões, a serem pagos em dinheiro. Suzano e VCP passarão a ter igual participação no capital da Ripasa e, ao mesmo tempo, se manterão como concorrentes nos mercados em que atuam. VCP e Suzano se uniram na reta final das negociações, que já duravam quatro meses, para barrar o avanço de poderosos competidores estrangeiros no mercado brasileiro, a sueco-finlandesa Stora Enso e a americana International Paper (IP), duas das maiores companhias globais do setor. Integram a transação 100% das ações ordinárias da Ripasa e 59,51% do seu capital total. A maior parte das ações (97,66% das ONs e 54,11% do total) está dentro da holding ZDZ, pertencente às famílias Zogbi, Derani e Zarzur.

O fechamento do negócio ocorrerá em duas etapas para contornar um obstáculo encontrado no processo. Os Zarzur encontram-se com seus bens indisponíveis por conta do processo de liquidação do banco Banco Mercantil de Descontos (BMD). A primeira etapa será concluída até o fim de março de 2005 e envolve 66,67% do capital votante (39,77% do capital total) da Ripasa, de propriedade das famílias Zogbi e Derani. O preço pago por suas ações será o equivalente em reais a US$ 480 milhões. As ações dos Zarzur - 33,33% das ações ordinárias e 19,74% do capital total - serão objeto de opções de compra e venda futura. O prazo para exercício das opções é de seis anos. Nesse período, espera-se que os papéis sejam liberados para venda. O valor a ser desembolsado nesta segunda fase será o equivalente em reais a US$ 240 milhões. Os vendedores foram assessorados pelo banco de investimentos Goldman Sachs e pelo escritório de advocacia Mattos Filho. O assessor financeiro da VCP foi o ABN AMRO e o da Suzano foi a Signatura Partners, de Marcelo Lyrio e Jean Pierre Zaruc. A Stora Enso contou com a consultoria do financeira do Morgan Stanley e a IP, do UBS. O valor pago pelo controle da Ripasa equivale a 10 vezes a sua geração de caixa operacional (lajida) de 2004 e 8,5 vezes a projetada para 2005. Segundo fontes do setor, trata-se do mais alto múltiplo entre os negócios do setor já fechados no país. Os novos controladores planejam fechar o capital da Ripasa. Mas não haverá desembolso em dinheiro para tal. Haverá uma reestruturação societária em que se oferecerá aos minoritários a possibilidade de migrar para Suzano e VCP. Entre os minoritários, destacam-se os fundos de pensão Previ (Banco do Brasil) e Petros (Petrobras), a BNDESPar e o fundo de ações Fator Sinergia. Se fossem comprar as ações, o desembolso seria de R$ 580 milhões para comprar os 73% das ações preferenciais que não estão na holding ZDZ (tomando como base a cotação de fechamento do papel ontem). As ações PN da Ripasa caíram 4,69% ontem, para R$ 3,86. Os papéis preferenciais da Suzano subiram 1,21% para R$ 12,45, enquanto os da VCP fecharam a R$ 203,10, com pequena valorização de 0,29%. A Ripasa produziu, de janeiro a setembro, 738 milhões de toneladas - 346,6 milhões de celulose e 391,5 milhões de toneladas de papel. Sua receita líquida no período foi de R$ 1 bilhão. A companhia tem quatro unidades industriais e 98,7 milhões de árvores plantadas em 86,4 milhões de hectares. Em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na noite de ontem, VCP e Suzano informam que transformarão a Ripasa em uma unidade produtiva conjunta. A produção correspondente a cada uma delas, entretanto, será comercializada de forma independente.