Título: Cai receita com venda de vacinas contra aftosa
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Fonte: Valor Econômico, 26/12/2011, Agronegócios, p. B10

A indústria veterinária viu seu principal mercado no Brasil perder força em 2011. Pressionada pelo aumento da concorrência e pelo menor número de doses vendidas em alguns Estados, a receita dessas empresas com a venda de vacinas contra a febre aftosa deve fechar o ano em queda no país.

Os números não são oficiais, uma vez que as companhias ainda contabilizam os resultados da segunda campanha nacional de vacinação do gado, realizada em novembro, mas estimativas privadas sugerem que os negócios encolheram perto de 10% neste ano.

Tradicionalmente, a aftosa responde por cerca de um quinto do faturamento do setor veterinário no Brasil, estimado em cerca de R$ 3 bilhões anuais.

Maior fabricante da vacina no país, a Merial calcula que seu faturamento no segmento tenha caído 11% em 2011, para R$ 76 milhões. Já a Pfizer, líder no mercado de produtos veterinários, viu sua receita com a vacina recuar 7% neste ano, para cerca de R$ 30 milhões. "O mercado está perdendo dinamismo. A concorrência cresceu, e os preços caíram", admite Jorge Espanha, presidente da companhia no Brasil.

Emílio Salani, presidente do sindicato que representa a indústria veterinária, o Sindan, confirma o diagnóstico e aponta para o acirramento da disputa entre os laboratórios. "Nos últimos 18 meses, três novas empresas entraram no mercado, e o parque fabril cresceu sensivelmente". Como as vacinas têm um prazo de validade relativamente curto, explica, as empresas não tiveram outra saída senão ceder nos preços e desovar a produção.

Além dos laboratórios Merck, Merial e Vallée (que produz para a Pfizer), que já fabricavam o medicamento, Inova Biotecnologia e Ouro Fino Saúde Animal abriram novas fábricas e ampliaram a capacidade total da indústria, de 400 milhões para aproximadamente 580 milhões de doses. Ainda disputam espaço no mercado o laboratório Biogénesis-Bagó, que importa a vacina da Argentina, e o Biovet, que apenas a aguarda o registro de seu produto no Ministério da Agricultura para começar a vender.

O problema é que a demanda está estagnada em um patamar muito inferior, na faixa de 365 milhões de doses - os números oficiais de 2011 devem ser divulgados em janeiro. Os Estados de Goiás, Bahia e Paraná, que faziam duas vacinações "cheias" do gado por ano, passaram a vacinar apenas os animais com até dois anos de idade na segunda etapa da campanha, em novembro. "Juntos, esses Estados devem ter tirado de 15 milhões a 18 milhões de doses do mercado potencial", afirma Salani. O executivo calcula que, em consequência, os preços tenham caído entre 15% e 20% neste ano.

Alfredo Ihde, presidente da Merial do Brasil, considera normal o processo de acomodação do mercado. "A evolução da campanha contra a aftosa pressupõe um mercado menor, com menos vacinações por ano. As vendas voltariam a crescer se houvesse um foco, mas as consequências seriam desastrosas para a indústria como um todo", afirma Ihde.

Salani acredita que as empresas vão se adaptar à maior concorrência e que as margens da indústria ainda são atraentes, apesar dos preços mais baixos. "Trata-se de um segmento estratégico, pois é uma demanda compulsória. Além disso, é um indutor para a comercialização de outros produtos veterinários", afirma o dirigente

Apesar do recuo nas vendas relacionadas à aftosa, o mercado de saúde animal teve um ano positivo e deve repetir o crescimento de dois dígitos registrado últimos anos. A alta nos preços do boi gordo e a expansão do segmento de animais de companhia deram impulso ao setor no Brasil.