Título: EUA querem que país libere importação de lítio
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2006, Brasil, p. A5

Os Estados Unidos alvejaram restrições impostas pelo Brasil na importação de um produto pouco comum: minério de lítio, considerado estratégico pelo governo brasileiro. Washington voltou à carga na Organização Mundial do Comércio (OMC), pressionando a política do Brasil para o mineral. A importação ou exportação de lítio precisa ser aprovada pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) por ser visto como de segurança nacional.

O minério tem múltiplos usos e desperta interesse também pelas possibilidades de aplicação na produção de energia nuclear. É usado principalmente na indústria de alumínio e na fabricação de remédios contra o transtorno bipolar, doenças reumáticas e mesmo controle da aids.

O Brasil tem uma única empresa privada que faz a prospecção e lavra e industrialização do minério, no Vale do Jequitinhonha. Empresas de alumínio teriam reclamado nos últimos tempos contra o alto preço interno do minério, que poderia ser diminuído com importações, segundo fontes do governo. No ano passado, Brasília autorizou a importação de apenas 200 quilos de lítio.

Os EUA, com grande estoque estratégico e capacidade de exportação, não cessaram de combater a licença especial de importação, em sucessivas questões feitas por meio de comitês da OMC e em reuniões bilaterais. O Brasil diz que não é obrigado a dar detalhes à OMC sobre o produto, considerado de segurança nacional. Até recentemente, Brasília justificava o controle da importação alegando riscos potenciais dos produtos de lítio e sua utilização. Como Washington contestou essa tese, o governo criou uma comissão interministerial para debater a questão.

Alcídio Abrão, ex-diretor da Diretoria de Materiais Nucleares do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), sugere que, diante das múltiplas possibilidades de aplicação do minério, o Brasil deve compor um estoque estratégico para uso futuro. Para aproveitar a potencialidade do lítio, diz ele, o país precisa dispor de unidades industriais capazes de realizar os processamentos químicos e que possam ser mobilizadas para produção com emprego na área nuclear com fins pacíficos. (AM)