Título: "Oposição não pode se opor a tudo" diz Serra
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2006, Política, p. A6

O governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), acenou ontem com uma possibilidade de colaboração com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dentro das "melhores relações institucionais possíveis", segundo declarou. De acordo com o novo governador, "na oposição, o PSDB é altivo: não foi, não é e nunca será adepto do quanto pior melhor", mesmo porque duvida da tese segundo a qual o fracasso administrativo e político do governo renda dividendos políticos para a oposição.

"O País cresceu pouco até 2006 e Lula ganhou. Não sou um economicista na política", disse Serra, que telefonou ontem para Lula, desejando-lhe boa sorte. "A boa sorte do presidente da República é a boa sorte do povo brasileiro", disse o governador eleito. Segundo Serra, será possível a Lula ter o apoio do governo paulista para determinadas matérias no Congresso.

"Diante de cada projeto de lei e emenda constitucional, saberemos diferenciar os interesses do governo e os interesses do Estado, as conveniências de um partido dos anseios da Nação. A governabilidade é uma tarefa do detentor do mandato, mas à oposição não cabe se opor a tudo e a todos", afirmou Serra, que se definiu como um "sincero cooperador em uma aliança institucional".

Serra mencionou duas demandas que gostaria de ver atendidas pelo governo federal: apoio para a ação administrativa na segurança pública e a regulamentação da emenda constitucional que vincula recursos para a Saúde, que na forma atual exige mais de municípios e Estados do que da União.

O futuro governador paulista sinalizou com suas pretensões presidenciais em 2010, ao dizer que não irá governar São Paulo " de costas para o Brasil" e cobrar ousadia na política econômica para conciliar a estabilidade inflacionária com maiores taxas de crescimento. Disse que a colaboração com o presidente visava a encerrar o doloroso ciclo pelo qual ser chamado de desenvolvimentista virou um insulto ".

Chegou a afirmar que tinha como missão "ajudar o País a sair deste círculo de giz da estagnação econômica". "Sou a favor do desenvolvimento. Não há fatalidade nenhuma que nos obrigue a crescer apenas 3% ao ano. Dizer que o Banco Central errou na condução da política de juros é um dever e uma responsabilidade minha", afirmou.

Serra disse que pretende fazer um governo "popular e de desenvolvimento" e criticou a focalização das políticas sociais, que "podem jogar pela janela a universalização das políticas públicas".

Serra procurou demarcar distância em relação ao primeiro movimento feito por outro presidenciável do PSDB, o governador mineiro Aécio Neves, que chegou a propor uma reunião de governadores para elaborar uma proposta de reforma tributária e de reforma política.

"Fui eleito para governador de São Paulo e as propostas que forem feitas eu vou examiná-las na ótica de governador de Estado", disse, descartando tomar a iniciativa da proposta e demonstrando ceticismo quanto à construção de consensos.

"Quando dez pessoas se juntam para discutir a reforma tributária, saem dez propostas", afirmou, ressaltando: "fui o relator do capítulo tributário na Constituição e tenho pós-livre-docência no tema, para saber que o governo federal tem que apresentar uma proposta coerente no início. Não dá para fazer um cata-frango", disse.

O paulista sinalizou que prefere investir na reforma política: relançou ontem a idéia de transformar em distritais as eleições para as Câmaras de Vereadores em 2008 nas cidades em que existe o segundo turno.

Serra disse que combinou com Aécio Neves uma visita a Belo Horizonte na segunda quinzena de novembro. Também deverá conversar pessoalmente com os governadores Paulo Hartung (PMDB-ES) e os tucanos Teotônio Vilela Filho (AL) e Yeda Crusius (RS).

O tucano se recusou a examinar as razões da derrota de Alckmin na eleição presidencial. "Há muitas explicações, e todas me parecem razoáveis", afirmou, ao ser perguntado se a exploração pelo PT do tema da privatização durante o segundo turno foi o principal motivo do insucesso.

O futuro governador demonstrou estranheza em relação às especulações de que Alckmin poderia assumir a presidência do PSDB no próximo ano. " O cargo não está vago. O mandato do senador Tasso Jereissati (CE) à frente do partido vai até novembro do próximo ano e ele não demonstrou disposição em se afastar", disse Serra.