Título: Cabral pede obras e Campos, renegociação de dívida na CEF
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 01/11/2006, Política, p. A7

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou, ontem, as articulações políticas para montar o seu futuro governo e costurar um arco de alianças com os governadores aliados. Os dois primeiros a visitar o presidente reeleito foram os governadores eleitos de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB) e do Rio, Sérgio Cabral (PMDB). A ambos, Lula confirmou que começará a chamar, na próxima semana, os presidentes de partidos aliados para ouvir propostas de governo e desenhar a futura reforma ministerial. Também quer fazer um almoço com os 27 governadores eleitos em outubro. Mas, neste caso, a data não foi definida.

Lula recebeu cumprimentos pela reeleição, mas também pedidos. Eduardo Campos quer uma negociação junto à Caixa Econômica Federal em relação a um crédito aberto seis anos atrás, cuja inadimplência de R$ 240 milhões impede investimentos em saneamento e educação. Também lembrou que a Sudene precisa ser revitalizada, com verbas suficientes para promover o desenvolvimento da região.

Cabral disse que o objetivo de sua visita foi conversar sobre uma agenda comum entre União e o Rio de Janeiro para os próximos quatro anos. As parcerias acontecerão na área de segurança pública, infra-estrutura (Arco Rodoviário do Rio de Janeiro e dragagem do Porto de Itaguaí) e saneamento básico (obras de água e esgoto para a população da Baixada Fluminense).

O presidente também vai acompanhar de perto os interesses de seus aliados. No dia 12 de novembro, Lula viaja para a Venezuela e, em sua comitiva, leva Eduardo Campos, que vai tratar com o governo de Hugo Chávez sobre a refinaria em Pernambuco, obra de parceria entre os dois países. Na primeira quinzena de janeiro, Lula deve visitar o Rio, para vistoriar as obras do PAN 2007, marcado para o meados do próximo ano.

Cabral acha possível uma unificação do PMDB em torno do governo Lula. Colocou-se como um dos interlocutores dessa parceria, mas assegurou que seu partido não pensa em reivindicar cargos em troca de apoio. "O PMDB traçou com clareza sua estratégia: não queremos cargos, queremos discutir políticas públicas", afirmou o governador fluminense. "É assim que eu faço política. Como governador do Rio, não vou pedir nenhum cargo no governo federal. Só quero que o Rio seja tratado com o respeito que o Estado merece".

Eduardo Campos segue a mesma linha e diz que o apoio do PSB ao presidente Lula não está atrelado a um espaço maior da legenda na Esplanada - atualmente, o PSB comanda o Ministério da Integração Nacional e o da Ciência e Tecnologia. "Vamos deixar o presidente à vontade para discutir a composição de sua nova equipe. Até meados de dezembro ele vai anunciar esses nomes", assegurou Campos, que almoçou com o presidente no Palácio da Alvorada.

O governador de Pernambuco defendeu a manutenção da política econômica do governo federal, apesar de reconhecer que sua legenda pregou, em diversos momentos, uma atitude mais ousada do governo petista. "Quem achar que o presidente, neste segundo mandato, vai enveredar pelo caminho da aventura, está redondamente enganado. Vai haver a mesma responsabilidade que o caracterizou durante o primeiro mandato", garantiu Campos.

O presidente aproveitou, então, para fazer uma "pesquisa qualitativa" com o governador Eduardo Campos. Quis saber o que ele tinha achado da resposta dada a Fernando Henrique, na véspera. FHC disse que continuaria perturbando o presidente durante o segundo mandato e Lula retrucou que seu antecessor não sabia se portar como ex-presidente. "Você acha que eu fui muito duro?", questionou Lula. "Não. O senhor pontuou de forma correta", defendeu o político pernambucano. "Lula teve 58 milhões de votos. Não pode levar pito de um ex-presidente, isso não tem cabimento", acrescentou Campos.